domingo, dezembro 18, 2005

Ópio.

Estava mais que visto que o Homem do Chapéu de Côco ia passar a noite inteira naquele café sujo. Ele observa tudo o que se passa à sua volta, ao seu lado está um velho de barbas que esmaga um cigarro, já apagado, contra o tampo da mesa mesmo ao lado do cinzeiro cheio de outras tantas beatas, é um velho sem importância que espera que lhe caia o último dente que lhe resta nas gengivas. Na mesa em frente do Homem do Chapéu de Côco estava uma prostituta pouco elegante a fumar um cigarro pela sua boquilha de estimação. No lado oposto ao do velho estava um casal aos beijos em cima da mesa. No piano, o pianista tinha uma falta de ritmo angustiante e o piano tinha uma tecla que não tocava. O quadro estava pintado, a cena convidava a uma loucura, o suicídio quem sabe.
O Homem do Chapéu de Côco pega então no pó que lhe tinham vendido no beco antes de chegar ao café e expira-o da forma que lhe tinham aconselhado. Os seus olhos começaram a arder e antes que eles fechassem ele teve a visão mais romântica de toda a sua vida, passou uma vida inteira para ter aquela visão e foi mesmo nesse momento entre o ardor e o fechar dos olhos que ele se conseguiu declarar, mesmo antes de ser nada. Agora, sem sequer ver a luz ao fundo do túnel, ele não se sentia, não havia nada para recordar, nem aquele café que foi a sua última morada. Afinal, estava mais que visto que o Homem do Chapéu de Côco ia passar a noite inteira naquele café imundo até que alguém, distraído, lhe pedisse bruscamente para se levantar.

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