sexta-feira, abril 08, 2011

vai lá, estou mesmo atrás de ti, mas não por muito tempo.


Olha rapaz, pega na tua mala onde guardas tudo. Agora põe o que ainda não encontraste lá dentro. Eu levo uma tábua atrás de mim e vou contigo, não vou de mãos dadas contigo porque vamos para sítios diferentes. Eu coloquei o meu gravador de cassetes antigo dentro da mala. O gravador onde eu gravava entrevistas com os mais velhos quando era pequeno. A minha voz mudou, já não tenho aquela voz irritante, agora tenho uma voz boa que irrita. Deixei de ser uma cria para me tornar num bicho enorme que não cabe no ar que o rodeia. As mãos começam a disparar para vários lados. As pernas não se controlam e eu tiro a minha tábua da mochila, atiro-a ao ar, ela cai na minha cabeça e eu deixo de ver. Pego nos tomates podres que tenho no congelador e atiro-os da janela como se fossem pedras. Espero que eles caiam na cabeça de alguém. Tal como a tábua que me caiu em cima da cabeça. Não quero mais nada.

quarta-feira, abril 06, 2011


Olá o meu nome é aquele que tu já sabes. Achas que podíamos, por ventura, ir passear os sapatos?

já vos aconteceu?


Já vos aconteceu terem aquela sensação de querer dizer muitas coisas e não conseguir porque a quantidade de coisas vos entope a boca?
Já vos aconteceu precisarem de falar com uma pessoa e essa pessoa teimar em não aparecer sabe-se lá porquê?
Já vos aconteceu quererem evaporar-se, mas em vez disso sentirem que estão a ficar cada vez mais sólidos?
Já vos aconteceu terem os olhos a arder por aguentar as lágrimas?

A mim já.

segunda-feira, março 14, 2011

bonecos.


Os bonecos acordam para aquilo a que chamamos dia. Eles não estão atados, não estão congelados e no entanto não conseguem tocar-se, nenhum se consegue mexer na direcção um do outro. Este conjunto de bonecos não é mais do que um par, um par que há-de ser um casal heterossexual já que são um boneco e uma boneca. Mas o que realmente interessa é o facto de se sentirem atraídos e não poderem tocar-se, provavelmente estão à espera do momento passar e constatarem que este já passou. Ao constatar que aquele já passou já não vão constatar que se beijaram ou que meteram a mão aqui e ali. As correntes são invisíveis, mas eles não se conseguem olhar nos olhos. O boneco sabe que a boneca tem cara de anjo, mas nunca a viu por dentro e por fora só conhece o cheiro do cabelo. O cabelo não é tão verdadeiro como o dos humanos, mas chega para o convencer de que os cabelos sintéticos também têm o seu valor. 

Ele decide então tocar apenas com um dedo na boneca, o problema é que os dedos dele estão colados, ou melhor, nunca estiveram descolados. Como não lhe pode tocar só com um dedo, toca-lhe com todos os cinco que tem na mão. A boneca fica satisfeita com o toque do boneco e decide fazer o mesmo, toca-lhe na bochecha com o coto onde devia estar uma mão. Apesar de serem bonecos eles não são feitos da mesma matéria se tivermos em conta que não estamos a sonhar. Um pode muito bem ser de pano ou de madeira e o outro pode até andar mais perto da matéria plástica.

Há pelo menos uma coisa que eles sabem, sabem que estão apaixonados pela ideia que têm um do outro. Os dois gostam de fazer downloads nas horas vagas e ouvem música até às lágrimas. Noutros dias ouvem música até a polícia os apanhar, mas aí já estavam a sonhar não era? Como nos filmes.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

descobertas (...)

Descobri que sou um desempregado cheio de trabalho.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

corta.

Eu sabia que já tinhas desaparecido.
Já não era sem tempo.
Virei-me de pernas para o ar e só te vi a ti.
Rias-te muito. De mim.
Eu sabia que não era de mim.
Era da minha sombra, que era maior do que eu.
Agora só a sombra.
Molhei o papel, foi só uma lágrima.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Adoro o Estoril ao pôr do Sol, faz-me sentir absolutamente inútil, mas com muitos amigos para beber uma aliança velha. À medida que o tempo passa, vou-me tornando num gajo super positivo e apoiante da inércia que nos assola a todos.

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

leiam isto rapidinho.


olá boa tarde o meu nome é, o quê? o meu no, ah sim você você, desculpe você não me trata por você, posso tratá-lo pelo seu primeiro nome, não prefiro que seja pelo segundo porque é igual ao do, sim ao do miúdo da, sim esse, pois não sabia que, olhe desculpe mas gosto muito das suas, sim são muito confortáveis, posso ver mais de perto? Não porque eu tenho vergonha de mostrar os meus, ah desculpe, sim, eu também não gosto que me vejam as, como? Sim isso que está a pensar, oh meu deus, quem? Estava a falar de um amigo meu, ah sim não conheço, o povo e o exército acabaram de proclamar a república, pois é verdade, deu na televisão, ai eu não tenho televisão, isso é um crime, olha lá está o meu amigo, não estou nada inspirado, shhh. Zzzzzzzz.