quarta-feira, dezembro 08, 2010
queixo: o suporte.
À porta de um bar apareceu à minha frente o homem mais carocho que eu alguma vez vi. Pequeno, magro e não tinha dentes, ou pelo menos o bigode comprido não deixava ver o que restava deles. O queixo era muito saliente e dava a impressão de que suportava o bigode e o nariz. Os olhos dele estavam lá ao fundo, no lugar mais longinquo da órbita, quase que os não conseguia ver. Ele disse que queria um cigarrinho, que já não fumava um paiva há tótil e que o gajo que o meteu na droga devia ir apanhar no cú. Quando ele disse isto lembro-me de ter pensado: "esse gajo se calhar até gostava!". O bigodes olhou para mim como se tivesse ouvido os meus pensamentos. Ficou ali suspenso por momentos como se o cérebro dele estivesse em stand-by. Depois disse que a miúda sabia o que estava a fazer. Não sei o que pensei quando ele disse isto. Lembro-me de não querer olhar para ela com medo de ver uns olhos iguais aos do homem. Toquei na minha cara e reparei que tinha dentes e não tinha bigode e o meu queixo estava no mesmo lugar de sempre, por debaixo da boca. Podia ser que ela também tivesse os olhos azuis no mesmo lugar de sempre, por debaixo das sobrancelhas.
segunda-feira, dezembro 06, 2010
es-tra-do-s
Estrado, estradozinho és tão bonitinho! Quando é que rebentas para eu partir a cabecinha? Cabecinha cabeçona não ganhas para a tua dona que está a rebentar pelas custuras (por causa dos estrados). Os estrados tomaram o lugar do meu raciocinio e agora sou um corpo a flutuar nas palavras suportadas pelos cavaletes. Digo que sim aos teus e os teus tornam-se aquilo que não controlo. Não sou teu filho logo não és minha mãe. Penso logo não faço... demais. Logo vou ver se chove logo à noite. Runa rasga as resmas de estrados rastejantes. Estrados atrás de estrados e eu... eu estou entalado. Doi-me o pé e a garganta. Farpas.
Estão a ver?
Estão a ver?
quinta-feira, novembro 25, 2010
memórias inventadas.
Muitas vezes tenho a tendência de criar memórias falsas. Dou por mim a ler livros e tomar os acontecimentos como meus. Esses acontecimentos ficam gravados na memória e eu passo dias inteiros a tentar repeti-las. As memórias da história, das revoluções que deixam as coisas tal como estão, das guerras entre homens de carne e osso. Quando penso nas minhas memórias chego a ver uma figura de barba branca, com um ar digno. Esta memória é de Deus, mas ao ver este homem, olho para os mendigos da rua que também têm barba branca, e penso que a razão para não fazerem a barba há-de ser muito diferente da de Deus. A partir daqui, invento as razões e tento repetir as memórias, na esperança de as poder viver um dia.
domingo, novembro 07, 2010
o que uma estação faz.
A mulher de óculos escuros passou por mim e disse bom dia. Lembro-me de a ver nos cartazes de campanha eleitoral para a junta de freguesia. Cartazes enormes com cabeças enormes e, atrás deles, uma legião enorme de apoiantes. Ao cruzar-me com estes deuses na rua, apercebo-me que o meu canivete suíço era capaz de lhes perfurar o coração. Nestes momentos, em que uma estação de comboios ainda me deixa a pensar nestas coisas, penso em mudar de casa.
Ah, é verdade, vou deixar de votar. Agora tenho que ir, vou apanhar o comboio na esperança de ser assolado por mais um pensamento genial. Esperem por novidades.
Ah, é verdade, vou deixar de votar. Agora tenho que ir, vou apanhar o comboio na esperança de ser assolado por mais um pensamento genial. Esperem por novidades.
sexta-feira, outubro 08, 2010
pegadas.
Eu não uso óculos, vejo bem. Olho na direcção da cidade que não existe e consigo vê-la. Acredito nos homens que não se mudaram para essa cidade e tento seguir-lhes as pegadas, mas estas, por vezes, são demasiado grandes e eu não consigo acompanhá-las. O que me reconforta é que não interessa propriamente repetir o que os outros fizeram. Chegamos muitas vezes a onde outros chegaram primeiro, mas existem certos sítios aos quais só um pode chegar. É desses sítios que eu ando à procura e espero não os encontrar tão cedo.
segunda-feira, outubro 04, 2010
quinta-feira, setembro 23, 2010
sábado, setembro 11, 2010
e viveram felizes para sempre.
Era uma vez um príncipe que vivia fechado numa biblioteca. Vivia a sua vida agarrado aos livros que lhe contavam a sua própria história. Ele achava que não precisava de sair à rua. Os livros contavam como tudo iria acontecer, desde o nascimento predestinado até ao encontro da princesa encantada à espera de ser salva.
Num dos livros, o príncipe encantado enfrentava um enorme dragão. O dragão guardava uma masmorra infernal onde estava uma donzela encarcerada. O príncipe não a conhecia, mas sabia que aquela era a princesa que dormia nos seus sonhos. O príncipe estava tão entusiasmado com a história que começou a ler em voz alta: "O dragão faz uma investida feroz com a sua cauda, as escamas reluzentes à luz do fogo parecem aço chapeado. O príncipe desvia-se por pouco, ergue a espada e, de um só golpe, trespassa o peito do dragão, deixando a espada incrustada no coração do monstro. O dragão cai por terra, lança o seu último suspiro de fogo. O caminho está agora livre para o...". As últimas páginas estavam rasgadas. O príncipe ficou incrédulo, o fim da história tinha sido rasgado.
Cheio de raiva, o príncipe decide então sair da biblioteca para resgatar as folhas perdidas. O príncipe pega na sua espada, abre a porta da biblioteca, sai para a rua e fica especado diante da porta do seu castelo, contemplando o mundo à frente dos seus olhos. Ele, que vivia sozinho no castelo, deparava-se com um mundo parecido com aquele de que se lembrava ter lido nos livros. No entanto, conseguia achar algumas diferenças: a sociedade era agora formada por dragões, monstros organizados que habitavam as ruínas dos homens. Uma sociedade demasiado bem organizada, sem lugar para heróis.
Fim.
Num dos livros, o príncipe encantado enfrentava um enorme dragão. O dragão guardava uma masmorra infernal onde estava uma donzela encarcerada. O príncipe não a conhecia, mas sabia que aquela era a princesa que dormia nos seus sonhos. O príncipe estava tão entusiasmado com a história que começou a ler em voz alta: "O dragão faz uma investida feroz com a sua cauda, as escamas reluzentes à luz do fogo parecem aço chapeado. O príncipe desvia-se por pouco, ergue a espada e, de um só golpe, trespassa o peito do dragão, deixando a espada incrustada no coração do monstro. O dragão cai por terra, lança o seu último suspiro de fogo. O caminho está agora livre para o...". As últimas páginas estavam rasgadas. O príncipe ficou incrédulo, o fim da história tinha sido rasgado.
Cheio de raiva, o príncipe decide então sair da biblioteca para resgatar as folhas perdidas. O príncipe pega na sua espada, abre a porta da biblioteca, sai para a rua e fica especado diante da porta do seu castelo, contemplando o mundo à frente dos seus olhos. Ele, que vivia sozinho no castelo, deparava-se com um mundo parecido com aquele de que se lembrava ter lido nos livros. No entanto, conseguia achar algumas diferenças: a sociedade era agora formada por dragões, monstros organizados que habitavam as ruínas dos homens. Uma sociedade demasiado bem organizada, sem lugar para heróis.
Fim.
sexta-feira, setembro 10, 2010
sábado, agosto 28, 2010
esticão para a frente.
Os olhos dentro das minhas órbitas começam a ficar embaciados. Não se conseguem voltar para si próprios, vão ficando mais cansados. Eles que saiam das órbitas, eles que me tragam coisas novas. Eu fico bem sózinho, a sério. Sem olhos, quero ficar uns tempos sem olhos e sem ouvidos. Não aguento as expectativas dos sentidos. Os meus sentidos induzem-me sempre ao erro, não quero. À medida que os meus olhos vão ficando calcificados nas minhas órbitas, vou ficando também com menos certezas.
Adoro não ter certezas.
Adoro escrever textos originais e textos como este...
Calcificados.
Tempo, não voltes para trás e se vires que te puxam para trás, não te esqueças de dar o esticão que rebenta com o cordão de ouro mole.
Adoro não ter certezas.
Adoro escrever textos originais e textos como este...
Calcificados.
Tempo, não voltes para trás e se vires que te puxam para trás, não te esqueças de dar o esticão que rebenta com o cordão de ouro mole.
domingo, agosto 22, 2010
já estive lá.
Hoje cheguei a casa e não gostei de chegar a casa, porque era a minha casa. Senti-me preso, aliás, eu estou preso à minha própria vida. Nem deixo que ela respire e ela não deixa que eu próprio respire. Tudo acontece rápido e tudo fica a meio, nada acaba, tudo não se transforma, tudo fica simplesmente a meio.
A liberdade que eu pensava que tinha fica a meio.
Os meus pensamentos ficam a meio.
Eu fico a meio, quando o que realmente quero é ficar no meio e não sair de lá.
Vou voltar a comer Cerelac e puxar pelas minhas memórias afectivas do tempo em que eu era o centro do mundo.
sexta-feira, agosto 20, 2010
um dia atrás do outro.
Ando a pensar mudar de mundo, mas não consigo arranjar nenhum que fique em conta.
A solução pode muito bem ser enterrar a cabeça na areia.
Mas prefiro pensar que melhores dias virão.
Vou continuar a tomar banho todos os dias.
Seja o que Deus quiser.
(desculpem)
Seja o que eu quiser.
A solução pode muito bem ser enterrar a cabeça na areia.
Mas prefiro pensar que melhores dias virão.
Vou continuar a tomar banho todos os dias.
Seja o que Deus quiser.
(desculpem)
Seja o que eu quiser.
sábado, julho 31, 2010
enorme.
Engasgo-me no que quero realmente dizer porque o chão tem demasiados sulcos. Cada tropeço é uma ferida que fica para sempre. A ferida não se fecha sem um bela despedida, é daquelas que abre com o tempo. Agora está na altura de estancá-la por muito tempo, se calhar até para sempre. Está na altura de fazer o pino e ver se as mesas da minha sala caem em direcção ao tecto.
Espero conseguir desaparecer tão bem como tu fazes, começar do zero. Quero sacudir as mãos e ver que me livrei de mim. Pelo menos o bocado de mim que agarro nas minhas mãos. O bocado que és tu e que nunca há-de ser mais ninguém.
Há um fosso enorme entre nós os dois. Por mais que salte caio sempre. Agora já não quero saltar, bati demasiadas vezes com a cabeça e devo estar a perder a lucidez. A lucidez não me faz muita falta, o problema são os galos na cabeça.
Claro que não percebes que isto é para ti.
Agora só o vento... adeus.
Não, não é assim.
Espero conseguir desaparecer tão bem como tu fazes, começar do zero. Quero sacudir as mãos e ver que me livrei de mim. Pelo menos o bocado de mim que agarro nas minhas mãos. O bocado que és tu e que nunca há-de ser mais ninguém.
Há um fosso enorme entre nós os dois. Por mais que salte caio sempre. Agora já não quero saltar, bati demasiadas vezes com a cabeça e devo estar a perder a lucidez. A lucidez não me faz muita falta, o problema são os galos na cabeça.
Claro que não percebes que isto é para ti.
Agora só o vento... adeus.
Não, não é assim.
terça-feira, julho 27, 2010
pó
Ouves o comboio a passar? O chão estremece porque a linha fica mesmo encostada ao prédio. Por baixo fica um teatro enfiado no subsolo. Os projectores estão cheios de pó, já não iluminam nada, nem sequer as tábuas podres do palco. Uma vez bati com o pé num deles, fiquei com o dedo pequeno inchado durante semanas. Tu deste risadas enormes, dás sempre.
Nessa altura ainda me descalçava, tinha essa coragem. Agora tenho medo que os meus pés fiquem cheios de pó. Tenho medo de perder o brilho e ficar cozido debaixo deste Sol embaciado.
Agora estou a estalar os dedos para fazer tempo. Quero que te vás embora com o pó, por isso vou sacudindo o pouco que já tenho nas mãos.
Cada vez que o comboio passa e faz tremer a casa, vou ficando com mais pó sobre o meu corpo.
Não é que me importe, mas tenho medo de ficar cego.
Nessa altura ainda me descalçava, tinha essa coragem. Agora tenho medo que os meus pés fiquem cheios de pó. Tenho medo de perder o brilho e ficar cozido debaixo deste Sol embaciado.
Agora estou a estalar os dedos para fazer tempo. Quero que te vás embora com o pó, por isso vou sacudindo o pouco que já tenho nas mãos.
Cada vez que o comboio passa e faz tremer a casa, vou ficando com mais pó sobre o meu corpo.
Não é que me importe, mas tenho medo de ficar cego.
sexta-feira, julho 23, 2010
A terrivel tragédia do Semicontente (3)
O Semicontente não gosta de ser ele próprio.
Com tanto amor sente-se hiper-ventilado e ele não consegue viver só do ar.
Com tanto amor sente-se hiper-ventilado e ele não consegue viver só do ar.
segunda-feira, julho 19, 2010
fim.
Hoje acaba um ciclo, há uma certa felicidade à porta do precipício, à porta dos céus.
Mas também fica a sensação de angústia, a sensação de ruína de onde vamos erguer a nossa própria cidade.
Mas também fica a sensação de angústia, a sensação de ruína de onde vamos erguer a nossa própria cidade.
segunda-feira, julho 12, 2010
domingo, julho 11, 2010
quinta-feira, julho 08, 2010
felizmente.
Nunca fui à India.
Nunca fui a um concerto dos Radiohead.
Nunca fui à Lua.
Nunca chafurdei na lama.
Nunca caí de um décimo andar.
Nunca fiz o pino durante duas horas.
Nunca andei numa vespa.
Nunca mergulhei no Mar Vermelho.
Nunca cantei uma canção de amor a ninguém.
Nunca disse nada bonito ao meu cão.
Nunca morri por amor. (juro)
Nunca fiz dança clássica.
Nunca experimentei heroína.
Nunca dei a volta ao mundo.
Nunca gostei de pó.
Nunca suportei cheiro a lixo.
Nunca vivi na cidade.
Nunca me mascarei de gueixa.
Nunca fui presidente da república.
Nunca parti um prato na cabeça de alguém.
Nunca tive jeito para testes.
Nunca vi o meu esqueleto.
Quando ficar sem tempo, há-de ser para sempre.
domingo, julho 04, 2010
Homem!
Das cinzas queres ser um osso.
Um osso pode ligar muitos ossos e agarrar muita carne, muitos ossos prendem tendões.
Liberta os tendões dos ossos e cobre a pele de cinzas.
Não te esqueças das papoilas que nascem dos sovacos.
Coça as papoilas com as unhas que a carne segura.
Suja as unhas de terra e levanta a pele das cinzas.
Tenta não ser cadáver antes de o seres e pode ser que haja esperança.
Descansa Homem e roga a Deus por margaridas no teu Inverno.
Das cinzas queres ser um osso.
Um osso pode ligar muitos ossos e agarrar muita carne, muitos ossos prendem tendões.
Liberta os tendões dos ossos e cobre a pele de cinzas.
Não te esqueças das papoilas que nascem dos sovacos.
Coça as papoilas com as unhas que a carne segura.
Suja as unhas de terra e levanta a pele das cinzas.
Tenta não ser cadáver antes de o seres e pode ser que haja esperança.
Descansa Homem e roga a Deus por margaridas no teu Inverno.
quinta-feira, julho 01, 2010
quarta-feira, junho 30, 2010
recta final.
Hoje passei o dia inteiro acordado. Passei o dia todo sozinho e fartei-me de escrever.
O dia da estreia está próximo, as noites sem dormir começam a entrar em contagem crescente.
Qualquer coisa próxima do pânico instala-se num sítio do meu corpo que desconheço, mas que me incomoda muito.
O dia da estreia está próximo, as noites sem dormir começam a entrar em contagem crescente.
Qualquer coisa próxima do pânico instala-se num sítio do meu corpo que desconheço, mas que me incomoda muito.
segunda-feira, junho 28, 2010
sexta-feira, junho 25, 2010
terça-feira, junho 22, 2010
isto.
Cá nos encontramos outra vez neste recanto escuro, onde ninguém nos ouve por causa do silêncio.
O meu corpo está mais fraco, oxalá não dure muito mais tempo. As minhas noites são em branco e não quero dar este tempo por perdido. As cartas de amor já não me fazem cócegas, e a fé nas pessoas já a vejo ao longe. Se esticar o braço não chego a lado nenhum, mas provavelmente não me livrarei de o enfiar no traseiro do Todo Poderoso.
Detesto ter de viver com a frustração (se calhar é a mulher da minha vida e eu não sei) porque ela só me dá chatices. Hoje tive uma chatice, perguntaram-me se eu tinha autorização para entrar na minha própria casa. Era um homem velho e com uma verruga no nariz, um inútil. Queria ver até que ponto o aborreceria se lhe rebentasse a verruga com uma agulha de coser.
Hoje ainda não fui capaz de dizer uma verdade. Já fui ao médico tentar perceber o que se passa, ele disse-me para lá voltar se os meus tomates começassem a inchar, ficámos assim.
Tenho muitas coisas para fazer, coisas pesadas, coisas que me fazem ficar cada vez mais marreco. Falta-me coluna vertebral, falta-me coragem, falta-me vontade, falta-me convicção. Felizmente conto sempre com a minha amiga, a frustração, e também com as minhas pernas e os meus braços. Ando ver se arranjo trabalho para a cabeça, não está fácil: demasiada oferta.
Quando acordo belisco-me na esperança de adormecer até ao dia seguinte, mas isto parece não ter fim.
domingo, junho 20, 2010
Espera!
Não me apetece mandar sms às pessoas que quero encontrar.
Tenho medo de as não encontrar por acaso.
Tenho medo de as não encontrar por acaso.
quinta-feira, junho 17, 2010
Christmas card from a hooker in Minneapolis.
hey Charley I'm pregnant
and living on 9-th street
right above a dirty bookstore
off cuclid avenue
and I stopped taking dope
and I quit drinking whiskey
and my old man plays the trombone
and works out at the track.
and he says that he loves me
even though its not his baby
and he says that he'll raise him up
like he would his own son
and he gave me a ring
that was worn by his mother
and he takes me out dancin
every saturday night.
and hey Charley I think about you
everytime I pass a fillin' station
on account of all the grease
you used to wear in your hair
and I still have that record
of little anthony & the imperials
but someone stole my record player
how do you like that?
hey Charley I almost went crazy
after mario got busted
so I went back to omaha to
live with my folks
but everyone I used to know
was either dead or in prison
so I came back in minneapolis
this time I think I'm gonna stay.
hey Charley I think I'm happy
for the first time since my accident
and I wish I had all the money
that we used to spend on dope
I'd buy me a used car lot
and I wouldn't sell any of em
I'd just drive a different car
every day dependin on how
I feel.
hey Charley
for chrissakes
do you want to know
the truth of it?
I don't have a husband
he don't play the trombone
and I need to borrow money
to pay this lawyer
and Charley, hey
I'll be eligible for parole
come valentines day.
Tom Waits
quarta-feira, junho 16, 2010
A terrível tragédia do Semicontente (2).
O Semicontente confessa que as metáforas sempre o ajudaram a dizer a verdade, mas nunca o livraram do confronto com a realidade.
O Semicontente sabe que as metáforas silênciam os gritos da guerra, mas nem por isso ela se torna menos dolorosa.
O Semicontente vê tudo a desmoronar-se... em câmara lenta.
O Semicontente fica-se pelas metáforas.
Boa Noite Berlim.
O Semicontente sabe que as metáforas silênciam os gritos da guerra, mas nem por isso ela se torna menos dolorosa.
O Semicontente vê tudo a desmoronar-se... em câmara lenta.
O Semicontente fica-se pelas metáforas.
Boa Noite Berlim.
terça-feira, junho 15, 2010
audição\intuição
Hoje fui a uma audição para uma peça de teatro. Foi muito engraçado e até teve direito a contracena com outros candidatos. Bem, no fim o encenador disse-nos: “de vocês todos só vai ser escolhido um, e essa escolha vai corresponder a uma intuição minha, mais nada. Porque já tenho uma imagem do espectáculo.”
Desde esse momento, deixei de confiar nas intuições dos outros.
domingo, junho 13, 2010
O Extravagante (8) - O Fim.
O Extravagante estava à mesa do jantar com a mulher. Toda a vida viveram juntos.
Ela dizia-lhe que ele só sabia incomodar as pessoas e que estava na altura de voltarem para casa. O Extravagante bateu com a mão na mesa, gritou, e com as poucas forças que lhe faltavam Ele disse: Eu só quero que ninguém me chateie.
A mulher calou-se, o velho Extravagante estava fraco e o seu fim estava próximo. A mulher perguntou-lhe se podia ir dormir, Ele não respondeu. Foi nesse momento que o Extravagante percebeu que estava a desenvolver um certo desprezo pelo próximo. Não fazia isto por mal, fazia mesmo por necessidade.
Um dia conheci este Extravagante, não era mau, só não tinha a certeza de gostar de pessoas.
Ela dizia-lhe que ele só sabia incomodar as pessoas e que estava na altura de voltarem para casa. O Extravagante bateu com a mão na mesa, gritou, e com as poucas forças que lhe faltavam Ele disse: Eu só quero que ninguém me chateie.
A mulher calou-se, o velho Extravagante estava fraco e o seu fim estava próximo. A mulher perguntou-lhe se podia ir dormir, Ele não respondeu. Foi nesse momento que o Extravagante percebeu que estava a desenvolver um certo desprezo pelo próximo. Não fazia isto por mal, fazia mesmo por necessidade.
Um dia conheci este Extravagante, não era mau, só não tinha a certeza de gostar de pessoas.
sábado, junho 12, 2010
independência, força, manifesto
Já há muito tempo que não te via, e ainda bem. Ainda bem que este tempo todo passou. Lembras-te da última vez que estivemos juntos? Cheirava a salão de baile.
No ínicio de cada baile entravam sempre as bailarinas que sabiam dançar. Lembro-me tão bem das sapatilhas rotas que elas usavam. Eu ria-me sempre quando entrava a bailarina gorda, sempre com o dedo grande do pé à mostra. Ela era enorme. Lembras-te?
Passaram-se anos e tu estás igual. As tuas mãos ainda têm o mesmo tamanho. Fico muito contente por não me ter cruzado contigo durante todos estes anos, não queria passar estes anos todos a conter as minhas gargalhadas.
Sabes, tenho muita vontade de me rir das tuas piadas, mas não te quero habituar mal. Rir-me do que tu dizes é demasiado perigoso e passar por perigos é sempre uma chatice. Chego a morder o lábio para não me rir. Estás a ver? Comecei a sangrar, este tipo de coisas não se faz com sorriso na cara.
O mais fácil era tu transformares-te em nuvem, não olho para o céu assim tantas vezes. Assim era mais fácil do que andar para aqui a morder o lábio.
Vou contar-te um segredo: tenho medo do céu, tenho medo que seja muito diferente da minha casa; a minha casa é feia e tu és bem capaz de ter sido a coisa menos tosca que por lá andou.
(ando à espera que estas coisas me aconteçam a mim e deixem de ser ficção)
No ínicio de cada baile entravam sempre as bailarinas que sabiam dançar. Lembro-me tão bem das sapatilhas rotas que elas usavam. Eu ria-me sempre quando entrava a bailarina gorda, sempre com o dedo grande do pé à mostra. Ela era enorme. Lembras-te?
Passaram-se anos e tu estás igual. As tuas mãos ainda têm o mesmo tamanho. Fico muito contente por não me ter cruzado contigo durante todos estes anos, não queria passar estes anos todos a conter as minhas gargalhadas.
Sabes, tenho muita vontade de me rir das tuas piadas, mas não te quero habituar mal. Rir-me do que tu dizes é demasiado perigoso e passar por perigos é sempre uma chatice. Chego a morder o lábio para não me rir. Estás a ver? Comecei a sangrar, este tipo de coisas não se faz com sorriso na cara.
O mais fácil era tu transformares-te em nuvem, não olho para o céu assim tantas vezes. Assim era mais fácil do que andar para aqui a morder o lábio.
Vou contar-te um segredo: tenho medo do céu, tenho medo que seja muito diferente da minha casa; a minha casa é feia e tu és bem capaz de ter sido a coisa menos tosca que por lá andou.
(ando à espera que estas coisas me aconteçam a mim e deixem de ser ficção)
quinta-feira, junho 10, 2010
quarta-feira, junho 09, 2010
segunda-feira, junho 07, 2010
a melhor montra era o meu elevador.
Outro dia entrei no elevador e o espelho estava desfeito em cacos no chão. Como bom cidadão que sou, sai do elevador e não avisei ninguém. Tive a leve impressão de que poderia ser acusado de ter partido o espelho.
A verdade é que nesse dia não me importei com o facto de o espelho estar partido. Mas agora, passadas duas semanas, o meu coração não aguenta a falta daquele espelho. Cada vez que saio de casa, tenho a sensação de estar desajeitado. A luz da minha casa de banho não me favorece tanto como a luz cinematográfica do elevador.
Na hora da passagem do leito para o confronto com a realidade, era aquele espelho que me sussurrava ao ouvido: “és o maior”. Agora tenho de me contentar com as montras reflectoras que vou encontrado nas ruas.
O meu ego anda instável com esta situação. E até tenho medo do novo espelho que "eles" vão lá pôr.
A verdade é que nesse dia não me importei com o facto de o espelho estar partido. Mas agora, passadas duas semanas, o meu coração não aguenta a falta daquele espelho. Cada vez que saio de casa, tenho a sensação de estar desajeitado. A luz da minha casa de banho não me favorece tanto como a luz cinematográfica do elevador.
Na hora da passagem do leito para o confronto com a realidade, era aquele espelho que me sussurrava ao ouvido: “és o maior”. Agora tenho de me contentar com as montras reflectoras que vou encontrado nas ruas.
O meu ego anda instável com esta situação. E até tenho medo do novo espelho que "eles" vão lá pôr.
domingo, junho 06, 2010
seitan.
Fui a Coimbra, já não ia lá para cima de um ano. Contra tudo o que eu esperava\desejava, fomos a um restaurante biológico. Da lista, o bife de seitan com molho de pimenta parecia-me o mais próximo de um petisco da Portugália. Pedi então essa substância a que "eles" chamam seitan.
Devo dizer que a minha expectativa quanto à virilidade daquele bife era pouca. Não me desiludiu e até me surpreendeu. Para já, olhei para ele e quase me pareceu uma bela i
entremeada com um coirato bastante convidativo. Depois, o molho de pimenta fazia lembrar os melhores molhos das clássicas cervejarias. Finalmente, é importante referir o enjoo tremendo que aquilo me provocou: algo digno, até agora, das grandes feijoadas.
Devo dizer que a minha expectativa quanto à virilidade daquele bife era pouca. Não me desiludiu e até me surpreendeu. Para já, olhei para ele e quase me pareceu uma bela i
entremeada com um coirato bastante convidativo. Depois, o molho de pimenta fazia lembrar os melhores molhos das clássicas cervejarias. Finalmente, é importante referir o enjoo tremendo que aquilo me provocou: algo digno, até agora, das grandes feijoadas.
quinta-feira, junho 03, 2010
segunda-feira, maio 31, 2010
as coisas que eu odeio (I)
Odeio filas de trânsito quando EU tenho pressa.
Odeio não perceber o que os outros dizem.
Odeio não perceber o que eu digo.
Odeio ter de rir sem vontade.
Odeio que me batam nas costas.
Odeio comprometer-me ao fim de semana.
Odeio peles nas unhas.
Odeio cortar o dedo numa brincadeira estupida.
Odeio quando não se riem das minhas piadas hilariantes.
Odeio estar a apaixonado.
Odeio não estar apaixonado.
Odeio não comandar uma conversa.
Odeio que se riam de mim.
Odeio sentir os boxers enfiados no rabo.
Odeio não poder fazer a esparregata.
Odeio ter de voltar a casa com a porta do comboio escancarada à espera que eu entre.
Odeio querer ser criativo e não ter ideias.
Odeio que os outros me vejam chorar.
Odeio perceber que o melhor da turma não sou eu.
Odeio beijar miúdas e perceber que o bigode delas me pica mais a mim, do que o meu lhes pica a elas.
Odeio casas com muita mobília. (cria pó)
to be continued...
Odeio não perceber o que os outros dizem.
Odeio não perceber o que eu digo.
Odeio ter de rir sem vontade.
Odeio que me batam nas costas.
Odeio comprometer-me ao fim de semana.
Odeio peles nas unhas.
Odeio cortar o dedo numa brincadeira estupida.
Odeio quando não se riem das minhas piadas hilariantes.
Odeio estar a apaixonado.
Odeio não estar apaixonado.
Odeio não comandar uma conversa.
Odeio que se riam de mim.
Odeio sentir os boxers enfiados no rabo.
Odeio não poder fazer a esparregata.
Odeio ter de voltar a casa com a porta do comboio escancarada à espera que eu entre.
Odeio querer ser criativo e não ter ideias.
Odeio que os outros me vejam chorar.
Odeio perceber que o melhor da turma não sou eu.
Odeio beijar miúdas e perceber que o bigode delas me pica mais a mim, do que o meu lhes pica a elas.
Odeio casas com muita mobília. (cria pó)
to be continued...
domingo, maio 30, 2010
sms\livro
Estava a ler um sms no telemóvel ao mesmo tempo que lia um livro. Foi incrível a passagem de um suporte para o outro, tive a sensação de estar a ler um sms quando voltei ao livro. No livro dizia qualquer coisa como: “espero que não me interpretes mal!”. Ora isto fez-me\deu-me um friozinho na barriga, porque tinha acabado de receber uma mensagem a dizer: “perdes-te a oportunidade de me ver bêbeda” (?????)… será que isto é uma mensagem do divino?
Pois eu digo, do divino não será, mas lá que há coisas que uma pessoa fica à rasca, lá isso há!
Pois eu digo, do divino não será, mas lá que há coisas que uma pessoa fica à rasca, lá isso há!
sexta-feira, maio 28, 2010
quinta-feira, maio 27, 2010
sobre aquela coisa que nós gostamos muito.
"Há sempre algo no teatro de que não gosto, porque o teatro é o contrário da vida; no entanto volto sempre a ele e amo-o, porque é o lugar onde posso dizer: isto não é vida."
Bernard-Marie Koltès
Bernard-Marie Koltès
quarta-feira, maio 26, 2010
segunda-feira, maio 24, 2010
ontem.
E agora a poesia está.
E agora estamos todos poéticos.
E agora estou.
Não quero saber do luar, só do que está debaixo dele.
Quero ver uma imagem e fazer parte dela.
Posso ser um filho morto, caído de cabeça pendurada, ao colo de uma mãe. Matrona que a natureza escolheu. Mãe dos guerreiros sem armas de metal. Mãe árvore que testemunha o círculo (quase) perfeito, círculo que nos devolve a vida enquanto os ramos se cansam.
E agora os filhos morrem nas palavras e vivem nas entre-linhas.
E agora estamos cada vez mais cheios de recordações e vazios de espirito.
E agora fechamos o parêntesis.
E agora?
E agora estamos todos poéticos.
E agora estou.
Não quero saber do luar, só do que está debaixo dele.
Quero ver uma imagem e fazer parte dela.
Posso ser um filho morto, caído de cabeça pendurada, ao colo de uma mãe. Matrona que a natureza escolheu. Mãe dos guerreiros sem armas de metal. Mãe árvore que testemunha o círculo (quase) perfeito, círculo que nos devolve a vida enquanto os ramos se cansam.
E agora os filhos morrem nas palavras e vivem nas entre-linhas.
E agora estamos cada vez mais cheios de recordações e vazios de espirito.
E agora fechamos o parêntesis.
E agora?
quarta-feira, maio 19, 2010
domingo, maio 16, 2010
sábado, maio 15, 2010
quarta-feira, maio 12, 2010
rent a life.
Quero esconder-me num buraco, mas a vontade de o cavar é pouca.
Alguém o pode cavar por mim? Sim?
Alguém quer viver a minha vida?
O aluguer não é muito caro.
Agora a sério.
Alguém o pode cavar por mim? Sim?
Alguém quer viver a minha vida?
O aluguer não é muito caro.
Agora a sério.
sábado, maio 08, 2010
Mein Liebster Fiend
Vi um documentário sobre um homem de olhos grandes: Klaus. O homem era amigo do realizador. Quase irmãos de amor e de ódio. Cada frase do realizador conseguia definir o homem que Klaus era. A definição era dada pelo seu próprio contrário, como se o mal fosse a escrita que definia o bem. Havia uma forma de falar tão despojada neste realizador, um descuido e um rancor que era brutalmente comovedor. Se digo despojada digo directamente subtil, tal como as coisas subtis devem ser: secas e ressoantes. As coisas que Werner dizia de Klaus eram terriveis. Parecia que Klaus era um monstro e era isso que nos fazia acreditar nele como ser... humano.
No final, podemos escolher a melhor parte, a parte da borboleta que sempre voou nas entrelinhas do discurso desajeitado de dois irmãos. É desta maneira que te vou recordando. Esta borboleta aparece também entre as gotas da chuva, não se molha, e nós demoramos tempo a encontrá-la. A borboleta fica suspensa para sempre e nós achamos que isso é pouco.
No final, podemos escolher a melhor parte, a parte da borboleta que sempre voou nas entrelinhas do discurso desajeitado de dois irmãos. É desta maneira que te vou recordando. Esta borboleta aparece também entre as gotas da chuva, não se molha, e nós demoramos tempo a encontrá-la. A borboleta fica suspensa para sempre e nós achamos que isso é pouco.
sábado, maio 01, 2010
Quem?
Então, não é assim que se faz.
Não tenho idade para saber como se faz.
Mas tens idade para fazer pouco de mim.
És um romântico.
Um quê?
Um romântico...
Tu não falas assim comigo.
Assim como?
Assado.
E cozido.
Porque é que falas por metáforas?
Porque é que cantas aquilo que não podes?
Diz-me lá para eu ir dar uma volta. A ver se eu vou.
E se não me contasses essas histórias todas. Sobre a escola. E o teu eu.
Eu... quem?
Aquele que não fala. Sabes?
Hm...
Vai pedir ajuda a outro. Sim? Alguém com paciência... de santo. António.
As tuas.
As minhas?
Coisas.
E o silêncio? Onde é que...
Onde?
Onde fica?
Ali ao ao fundo.
Não sou daqueles.
Que vão?
Ah sim, sou dos que vou indo.
Vou até ao fim do cu do Judas.
Como é que sabes onde fica o cu do Judas?
Jesus disse-me.
Quem?
Jesus, o que morreu na cruz. Alta.
Coitado. O que é que ele fez?
Judiarias.
Para saber onde é o cu do Judas, não dever ter feito boa coisa.
És um herege.
Um quê?
Um herege.
Ah, um herege. Qual é o problema?
É que... eu não sei quem foi Jesus.
Sei melhor quem foi o meu pai.
Acho que acredito mais no meu pai do que em Jesus.
Quem é o teu pai?
É o...
Ah!
Calma. Não fales assim do meu pai.
Sei lá quem foi o teu pai.
O meu pai era um travesti.
Um quê?
Um herege.
Não tenho idade para saber como se faz.
Mas tens idade para fazer pouco de mim.
És um romântico.
Um quê?
Um romântico...
Tu não falas assim comigo.
Assim como?
Assado.
E cozido.
Porque é que falas por metáforas?
Porque é que cantas aquilo que não podes?
Diz-me lá para eu ir dar uma volta. A ver se eu vou.
E se não me contasses essas histórias todas. Sobre a escola. E o teu eu.
Eu... quem?
Aquele que não fala. Sabes?
Hm...
Vai pedir ajuda a outro. Sim? Alguém com paciência... de santo. António.
As tuas.
As minhas?
Coisas.
E o silêncio? Onde é que...
Onde?
Onde fica?
Ali ao ao fundo.
Não sou daqueles.
Que vão?
Ah sim, sou dos que vou indo.
Vou até ao fim do cu do Judas.
Como é que sabes onde fica o cu do Judas?
Jesus disse-me.
Quem?
Jesus, o que morreu na cruz. Alta.
Coitado. O que é que ele fez?
Judiarias.
Para saber onde é o cu do Judas, não dever ter feito boa coisa.
És um herege.
Um quê?
Um herege.
Ah, um herege. Qual é o problema?
É que... eu não sei quem foi Jesus.
Sei melhor quem foi o meu pai.
Acho que acredito mais no meu pai do que em Jesus.
Quem é o teu pai?
É o...
Ah!
Calma. Não fales assim do meu pai.
Sei lá quem foi o teu pai.
O meu pai era um travesti.
Um quê?
Um herege.
quarta-feira, abril 21, 2010
Descobertas recentes (2)
As descobertas recentes hão-de se tornar descobertas antigas.
Depois desta, este blog suporta tudo.
Depois desta, este blog suporta tudo.
quinta-feira, abril 15, 2010
segunda-feira, abril 12, 2010
A terrivel tragédia do Semicontente
O Semicontente precisava de um upgrade. Para o upgrade ser eficaz, o Semicontente precisava de transitar.
Então foi viajar.
O Semicontente gosta de lugares de transição. Nunca sabe o que vai acontecer.
Segurança no esquecimento.
É seguro que o semicontente se apaixone, porque tudo fica ali, onde os que sabem não sabem que o Semicontente sabe que é imortal.
O Semicontente fecha-se na bolha da transição, fecha-se na semi-partida e na semi-chegada.
O Semicontente esqueceu-se que a bolha do esquecimento rebenta.
O Semicontente apaixonou-se pela transição rompida pelas lágrimas.
O Semicontente está pronto para o download.
O Semicontente lembrou-se.
Então foi viajar.
O Semicontente gosta de lugares de transição. Nunca sabe o que vai acontecer.
Segurança no esquecimento.
É seguro que o semicontente se apaixone, porque tudo fica ali, onde os que sabem não sabem que o Semicontente sabe que é imortal.
O Semicontente fecha-se na bolha da transição, fecha-se na semi-partida e na semi-chegada.
O Semicontente esqueceu-se que a bolha do esquecimento rebenta.
O Semicontente apaixonou-se pela transição rompida pelas lágrimas.
O Semicontente está pronto para o download.
O Semicontente lembrou-se.
quinta-feira, fevereiro 18, 2010
O que me chateia nas mortes é perceber que vou ter menos uma pessoa que viverá mais do que eu. Para me reconfortarem, as pessoas dizem-me que ficam as boas memórias. Agora eu pergunto: o que é que vou fazer com essas memórias?
As memórias não atenuam o sofrimento caseiro, aquele que entala as entranhas e que nos dá um nó na respiração.
As memórias não atenuam o sofrimento caseiro, aquele que entala as entranhas e que nos dá um nó na respiração.
quinta-feira, fevereiro 04, 2010
Sem causa.
O Jorge ia a passar e viu uma mota do outro lado do passeio. A primeira ideia que tem é a de roubar a mota, é a primeira e a única ideia. Ele rouba a mota e vai dar uma volta pela Amadora, mas a Amadora está diferente de fora continua o mesmo amontoado de prédios, por dentro parece uma vila rústica do interior, com pracetas e coretos. Ele anda pela vilazinha cheio de medo que alguém o apanhe com a mota roubada. Anoitece e ele ainda está às voltas com a mota até que chega a um beco onde se encontram carros estacionados, estaciona aí a mota.
No outro dia de manhã as ruas estão agitadas, de um lado manifestações, do outro polícia de choque pronta para avançar para cima da multidão. Jorge passa pelo meio, não está em nenhum dos lados. Olha fixamente um polícia que também olha nos olhos, Jorge tem a certeza de que aquele polícia sabe que foi ele que roubou a mota no dia anterior, mas o polícia desvia o olhar e comenta com outro: “hoje estamos a ser muito ameaçados.”. Jorge fica mais aliviado e continua andar, a Amadora está outra vez a parecer-se com uma vila rústica e vê muitas caras conhecidas que o ignoram. Ele tem dois guarda-chuvas e alguém o puxa pelo que tem na mão direita. A pessoa que o puxou é uma professora da sua escola com quem nunca tinha privado. Falam-se como se conhecessem desde sempre. Falam da revolução da qual Jorge não sabia nada ainda à um minuto, mas naquele momento consegue discorrer um discurso sobre a revolução. A professora ri-se e diz-lhe que ele é um rebelde sem causa. Jorge fica perplexo com ele mesmo a professora olha-o com um ar constrangedor. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Ela diz-lhe que para a próxima não é preciso roubar a mota.
domingo, janeiro 24, 2010
cinzento.
Às duas da tarde de domingo levantei-me. Tomei banho numa água amarela porque tinha faltado a água durante a noite e o gás não funcionava: água fria. Vesti-me, pus os cremes e sai de casa para ir almoçar ao café que ficava ainda um bocado longe de casa.
A caminho do café passei pela estação que estava deserta, não se via ninguém. A atmosfera estava muito cinzenta. O cinzento já é uma cor deslavada, mas este cinzento era mais deslavado do que os outros cinzentos. A bilheteira tinha as persianas corridas. Havia uma poça no chão que reflectia o céu cinzento, mas houve qualquer coisa vermelha que passou repentinamente pelo reflexo e eu nem vi o que era. Continuei o meu percurso agora subia a rua principal que segue até a rotunda. Passei por um jardim com dois bancos vazios e uma menina de saia e colants, tinha uma casaco azul e estava a rir-se para mim. Deu-me vontade de chorar, mas consegui conter as lágrimas. Subi mais um bocado a rua, cheguei ao café, peguei num tabuleiro. A rapariga que me atendeu estava vestida da mesma forma que a menina do jardim e o sorriso tinha envelhecido.
A caminho do café passei pela estação que estava deserta, não se via ninguém. A atmosfera estava muito cinzenta. O cinzento já é uma cor deslavada, mas este cinzento era mais deslavado do que os outros cinzentos. A bilheteira tinha as persianas corridas. Havia uma poça no chão que reflectia o céu cinzento, mas houve qualquer coisa vermelha que passou repentinamente pelo reflexo e eu nem vi o que era. Continuei o meu percurso agora subia a rua principal que segue até a rotunda. Passei por um jardim com dois bancos vazios e uma menina de saia e colants, tinha uma casaco azul e estava a rir-se para mim. Deu-me vontade de chorar, mas consegui conter as lágrimas. Subi mais um bocado a rua, cheguei ao café, peguei num tabuleiro. A rapariga que me atendeu estava vestida da mesma forma que a menina do jardim e o sorriso tinha envelhecido.
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