O Jorge ia a passar e viu uma mota do outro lado do passeio. A primeira ideia que tem é a de roubar a mota, é a primeira e a única ideia. Ele rouba a mota e vai dar uma volta pela Amadora, mas a Amadora está diferente de fora continua o mesmo amontoado de prédios, por dentro parece uma vila rústica do interior, com pracetas e coretos. Ele anda pela vilazinha cheio de medo que alguém o apanhe com a mota roubada. Anoitece e ele ainda está às voltas com a mota até que chega a um beco onde se encontram carros estacionados, estaciona aí a mota.
No outro dia de manhã as ruas estão agitadas, de um lado manifestações, do outro polícia de choque pronta para avançar para cima da multidão. Jorge passa pelo meio, não está em nenhum dos lados. Olha fixamente um polícia que também olha nos olhos, Jorge tem a certeza de que aquele polícia sabe que foi ele que roubou a mota no dia anterior, mas o polícia desvia o olhar e comenta com outro: “hoje estamos a ser muito ameaçados.”. Jorge fica mais aliviado e continua andar, a Amadora está outra vez a parecer-se com uma vila rústica e vê muitas caras conhecidas que o ignoram. Ele tem dois guarda-chuvas e alguém o puxa pelo que tem na mão direita. A pessoa que o puxou é uma professora da sua escola com quem nunca tinha privado. Falam-se como se conhecessem desde sempre. Falam da revolução da qual Jorge não sabia nada ainda à um minuto, mas naquele momento consegue discorrer um discurso sobre a revolução. A professora ri-se e diz-lhe que ele é um rebelde sem causa. Jorge fica perplexo com ele mesmo a professora olha-o com um ar constrangedor. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Ela diz-lhe que para a próxima não é preciso roubar a mota.
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