quarta-feira, outubro 05, 2005

Na direcção certa


Era já fim do dia quando apanhei o comboio em Lisboa com direcção a Sintra, vinha acompanhado por uma amiga que saiu a meio da viagem. Tinha acabado as aulas e apetecia-me passear por Sintra, farto da confusão e da gritaria muda que ecoava na minha cabeça. Quando cheguei a Sintra encontrei um conhecido com uma viola na mão, não se lembrava do meu nome, provavelmente tinha tomado a sua última dose pouco tempo antes de me encontrar. Disse-me que ia ensaiar uma guitarradas para casa de um amigo em Lisboa. O seu olhar era disperso, notei que ele tentava a todo o custo não deixar passar a imagem de que estava pedrado. Disse-me que eu ia "numa boa direcção e que o crepúsculo estava muito bonito". Despedimo-nos com um valente aperto de mão. Ele podia estar todo janado, as drogas podiam ter-lhe subido à cabeça, mas a noção de beleza e a sensibilidade estavam todas lá, não faltava nada nas palavras dele, ou não fosse ele um artista, um músico muito talentoso com queda para o teatro. Ele tinha razão, o crepúsculo estava mesmo bonito.
Quanto a mim, fui em direcção ao crepúsculo e fiquei-me pela tilia a pensar em tudo e em nada, velha tilia de principes e pobres, ou até mesmo dos meninos que querem ser principezinhos. Eu era daqueles que queriam ser principezinhos. Fiquei ali até a noite chegar com o cheiro a comida dos pequenos restaurantes da vila.

1 comentário:

Paris disse...

Resolveu ir ao cinema. "Alice", uma menina perdida que... (não vou contar.) Saiu do cinema às 17h30. Às 19h ainda estava por lá, pelas ruas de lisboa, a pensar no não pensado, a remoer o filme, pesada e leve... pesada e leve, como um gato. Perdida por filmes e por ruas, mesmo mesmo no fim da tarde. Perdida pelo crepúsuculo...