quinta-feira, março 30, 2006

...

Já ninguém dá Amor de graça: descobri a pólvora minha gente.

Tu cidade

Quero agarrar-me a esta cidade e marchar pelo rio adentro, ter a audácia de destruir ondas e partir barcos. Quero estar de vigília e perder-me no grito das gaivotas ao fim de tarde, gritar também eu, gritar o meu sangue. Quero ser guitarra, corda suada e batida, corda desnudada e amaciada. Trazes a minha tristeza dentro de ti, meu testemunho pedonal, meu lamento profundo, meu suspiro escondido no bolso pela mão cobarde. Agora, perdes-me em tuas ruas porque é isso que te peço. É isso que te suplico quando canso-me nas calçadas e esfolo-me nas lamas obscuras que tens. Abres-me a liberdade, porém desgastas-me contra as pedras sujas. Não é justo quando me dás espaço e eu corro, corro, corro enquanto tropeço nos sonhos, nas encruzilhadas, tantas e embaraçadas que não sei, não sei por onde seguir...quero ir até ao rio e ser gaivota para denunciar a tempestade na terra. Dá-me o teu mistério para que te conheça sem fim.

quarta-feira, março 29, 2006

Fragmentus Suburbia (11): amor próprio

É incrível como a pressa de chegar pode dar lugar ao auto-abandono.
O sentimento contagiante de transitoriedade tudo trespassa: até a urgência.
E quando olhas lá para fora, esqueces-te.
Haverá amor (próprio) que resista à hora de ponta?

O Impertinente (16): projecção e auto-desconhecimento

Ele disse: "Quando vou ao mar descubro sempre novas coisas sobre mim."

Quando voltou a si, descobriu que nunca tinha ido ao mar.

terça-feira, março 28, 2006

Vizinhos.

Eles gritavam à hora do jantar.
Eles nunca tinham lido um poema de amor.
Eles nem sequer tinham posto a máscara antes de começar a falar.

segunda-feira, março 27, 2006

Anuncio de Jornal

Alma minha gentil, que te partiste, trespassa corpo inocuo e perdido.

Em razoavel estado, usado 4 anos apenas, em felicidade extrema.
Com acentuada dificuldade em arrancar. A precisar de afinacao no engasgamento da palavra, (como aquelas que se fazem aos pianos) e introducao de objectivos principalmente na area futura.

Um ano de garantia, (valida durante o periodo equivalente ao horoscopo 2006, propicio a mudancas).

Documentos em ordem, legalizado, e acessivel.
Manutencao capilar pouco frequente, higiene dentaria em dia, mudanca de ares feita a pouco tempo.


Contactar o proprio, com jeitinho e educacao (para nao assustar).

sábado, março 25, 2006

Democracia das Emoções (9): consequências da intimidade

Ele engolia todas as palavras que não conseguia escrever.
Ela escrevia todas as palavras que não conseguia engolir.

No final, ele ficou com as páginas em branco e ela com os analgésicos para as dores de barriga.

Sintoma (13): a ideologia da medicação

Ela disse: "É preciso respeitar os ritmos biológicos do corpo humano."

Depois receitou-lhe uns comprimidos: para que as intermitências do bailado não comprometam o próprio bailarino.

O Impertinente (15): a queda

Ele era
tão
tão
tão
que nem ele próprio aguentava.

terça-feira, março 21, 2006

"Era Uma Vez Um Dragão"


Texto: António Manuel Couto Viana
Encenação: José Henrique Neto
Interpretação: Daniel Figueiredo, João Vicente, José Redondo

Dias 25 e 26 de Março (Sábado e Domingo) pelas 16h30 no Espaço TapaFuros (Estúdio Doiséme) em Mem-Martins. Entrada Gratuita.

Um espetáculo a não perder... MESMO.

sexta-feira, março 17, 2006

"There is no such thing as monsters."


History of Violence, de David Cronenberg

quinta-feira, março 16, 2006

O Impertinente (14): fé e salvação

Ele não acreditava em super-heróis...

...até ao dia em que precisou de ser salvo.

quarta-feira, março 15, 2006

O Impertinente (13): fora do tempo

Não era particularmente azarado ou especialmente sortudo: apenas não reclamava os prémios a tempo.

terça-feira, março 14, 2006

Fragmentus Suburbia (10): pendularidade e desresponsabilização

Tens razão:

Dentro de um comboio suburbano, conceptualizar a urgência pode ser uma tarefa tão desgastante como inútil.

Memórias poéticas (7)

domingo, março 12, 2006

O Extravagante (2)

Ele tem vindo a desenvolver um fetiche pelos telefones das casas alheias, Ele acha que os telefones dizem muito sobre uma pessoa.
Quando Ele encontra um telefone igual ao que tem em casa, tem orgasmos múltiplos e rejubila de felicidade.
O que Ele precisa é de uma mulher ou então de revistas porno que o façam tornar num homem de barba rija.

O que Ele mais detesta são telefones sem fios.

sábado, março 11, 2006

O Impertinente (12): sexualidade, teorização e risco

Há quem transforme grandes edifícios teóricos em episódios sexuais arrojados.
E há quem converta a sexualidade episódica numa fabulação teórico-especulativa.

Ele usa perservativo.

O Impertinente (11): impostos e impostores

De minimalismo em minimalismo, acabaria por se tornar num minimalismo dele próprio.

Embora se tenha esforçado, ainda pertence ao mesmo escalão do IRS.

quinta-feira, março 09, 2006

O Personagem Dançante

Sentaste-me à tua frente. Vi que havia um copo de vinho abandonado em cima da mesa. Senti-me seduzida pela sua cor quente e picante. De súbito, profetizei uma noite de sabores apaladados. Entre nós havia uma mesa e na mesa havia uma vela semi queimada semi não queimada. No meio de nós havia as palavras. Aliás, foi por causa disso que estava ali, naquela noite. Por causa das PALAVRAS. Assim, leste versos de um qualquer livro de poesia, de um autor que não me lembro, de um autor que conheço, mas não me lembro, de um autor que desconhecia e continuo a não saber o nome, mas sei os seus versos e, isso, acho que faria o poeta feliz. Na tua poesia, não tua, mas tão tua, tão aguçada nos teus lábios, tão acutilante nas pausas líricas, perdi os sentidos, não encontrei sentido nos versos, não encontrei o meu sentido, mas ouvi o desejo de beleza dos poemas, ouvi a Vida primitiva dos ritmos da linguagem. E bastou-me. Entretanto, já nem ligava ao escorpião que vagueava sobre as minhas mãos pousadas na mesa. Acho que lhe quis dar um pouco de açucar, mas o inútil recusou...pena a tua...que não tens penas...pensei que o dito escorpião já me deveria ter atacado com o seu veneno para solucionar aquela noite, mas ele estava incansável nas suas danças exóticas com as suas patas estranhas...eventualmente, acabei por desprezá-lo e fiquei a ouvir poesia.

Democracia das Emoções (8): cumplicidade e comunicação

Ele encontrou a forma mais silenciosa de o dizer.
Ela descobriu a maneira menos barulhenta de o ouvir.

Durante o sono, todos somos cúmplices: das formas de o dizer e das maneiras de o ouvir.

Democracia das Emoções (7): a divisão do trabalho conjugal

Ainda que apenas ela tenha coragem para o dizer, só ele terá a cobardia de o conseguir ouvir.

Democracia das Emoções (6): mínimo denominador comum

Apesar de pertencerem a mundos diferentes...

...utilizam o mesmo ecoponto.

terça-feira, março 07, 2006

A Naifa (novo álbum).


"Antes de saíres para o trabalho, arrumas à pressa o dia anterior para debaixo da cama."
João Miguel Queirós

domingo, março 05, 2006

Sobre as memórias.

Ele só tinha uma esperança: não deixar morrer as memórias que tinha encontrado naquele lugar. Era crucial reavivar as memórias ou deixá-las de vez. Nesse lugar, onde a música faz de nostalgia, ele deixou cair as memórias da mesma maneira que as tinha agarrado: a dançar. Ele voltou ao lugar para ter a certeza de que aquilo tudo não passava de um sonho e por lá deixou as memórias boas e más. Ali, onde se faziam rodas, misturavam-se os pós magicos que as cinzas iam soltando.
Cinzas de mil memórias, à espera que a senhora da limpeza as leva-se como se fossem as cinzas de serpentinas caídas no chão.

E foi assim que ele se tornou Pós-Romântico.

sábado, março 04, 2006

Subsidiarismo (3)

Caso o Poeta se mostre relutante em abraçar o interesse público, eis a solução infalível: subsidiar a aquisição de telemóvel e/ou subsidiar os desencontros amorosos entre moços e moças disponíveis, interessantes, sem doenças e/ou deformidades manifestas e/ou latentes.

Subsidiarismo (2)

Tendo em conta o teor e a recorrência das confissões que Pedro Mexia recebe via sms, creio que já se justificava um subsídio ou, na melhor das hipóteses, um cargo na função pública.

Subsidiarismo

Quando «o mercado» não funciona, há que exaltar o subsidiarismo: eis uma fórmula que ganha eficácia à medida que o mercado vai falhando.

sexta-feira, março 03, 2006

Em Coimbra.

E está tudo dito...

quinta-feira, março 02, 2006

O Impertinente (10): alheamento

Ele disse: "A capacidade de ouvir conversas alheias é inversamente proporcional à capacidade de escutar o nosso próprio alheamento."

Quando olhou em redor, reparou que só havia uma cadeira desocupada: a dele.

O Impertinente (9): resumo

Ela disse: "Como vês, a minha vida não se resume só a ti."

Embora não o pudesse adivinhar, aquela frase resumia toda a sua vida sentimental.