sábado, setembro 11, 2010

e viveram felizes para sempre.

Era uma vez um príncipe que vivia fechado numa biblioteca. Vivia a sua vida agarrado aos livros que lhe contavam a sua própria história. Ele achava que não precisava de sair à rua. Os livros contavam como tudo iria acontecer, desde o nascimento predestinado até ao encontro da princesa encantada à espera de ser salva.
Num dos livros, o príncipe encantado enfrentava um enorme dragão. O dragão guardava uma masmorra infernal onde estava uma donzela encarcerada. O príncipe não a conhecia, mas sabia que aquela era a princesa que dormia nos seus sonhos. O príncipe estava tão entusiasmado com a história que começou a ler em voz alta: "O dragão faz uma investida feroz com a sua cauda, as escamas reluzentes à luz do fogo parecem aço chapeado. O príncipe desvia-se por pouco, ergue a espada e, de um só golpe, trespassa o peito do dragão, deixando a espada incrustada no coração do monstro. O dragão cai por terra, lança o seu último suspiro de fogo. O caminho está agora livre para o...". As últimas páginas estavam rasgadas. O príncipe ficou incrédulo, o fim da história tinha sido rasgado.
Cheio de raiva, o príncipe decide então sair da biblioteca para resgatar as folhas perdidas. O príncipe pega na sua espada, abre a porta da biblioteca, sai para a rua e fica especado diante da porta do seu castelo, contemplando o mundo à frente dos seus olhos. Ele, que vivia sozinho no castelo, deparava-se com um mundo parecido com aquele de que se lembrava ter lido nos livros. No entanto, conseguia achar algumas diferenças: a sociedade era agora formada por dragões, monstros organizados que habitavam as ruínas dos homens. Uma sociedade demasiado bem organizada, sem lugar para heróis.

Fim.

1 comentário:

Trancinhas disse...

Não há lugar para heróis.
De algum modo somos todos um pouco miseráveis.
Condenados à nossa própria sentença.
Usamos as máscaras que nos convém.
Por vezes a de cobardes,
Outras a de corajosos.
Mas não somos vitimas do destino.
Somos senhores dos nossos passos.
E cabe-nos a nós a escolha:
Fechar-nos na biblioteca de sonhos e horrores
Ou enfrentar a luz do dia mesmo que esta nos consuma com o ardor flamejante dos medos que nos assombram?