domingo, outubro 22, 2006

não gosto de acordar na incerteza
para a contagem decrescente ou crescente.

As ambulâncias já vêm a caminho
com as sirenes a anunciarem um desastre
que me amarrará à cama
em silêncio devoto
e com o sentimento a furar os lençóis, a suar pelos braços,
pelo peito, pela barriga

Quando comer nem vou conseguir mastigar nem saborear
de tão ferida que está a minha língua, a minha garganta
arrebentada pelas explosões, o meu maxilar
deslocado pelo vento
em crise nas ruas vazias.

Quero que o vazio se penetre
nos teus cabelos e te arranque as raízes do cérebro
até os olhos serem apenas duas órbitas em flutuação permanente
Para que o vazio seja tanto que não haja espaço
para o sonho, para o pesadelo. Só o vazio
na sua contemplação oca onde não há esferas nem
quadrados com ângulos nem gemido
apenas um furo onde o
fim é sempre o início,
o iníco sem chão nem
escadas para subir ou descer

Apenas a morte
a morte parada a preencher todos os lugares
a morte para a próxima passagem
onde a dor é tanta que o coração bate mais para saltar do peito

Dá-me um beijo de boa noite
para poder adormecer

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