sábado, julho 31, 2010

fui.


Vou de férias! MUAHAHAHAHA (riso maquievélico)

enorme.

Engasgo-me no que quero realmente dizer porque o chão tem demasiados sulcos. Cada tropeço é uma ferida que fica para sempre. A ferida não se fecha sem um bela despedida, é daquelas que abre com o tempo. Agora está na altura de estancá-la por muito tempo, se calhar até para sempre. Está na altura de fazer o pino e ver se as mesas da minha sala caem em direcção ao tecto.
Espero conseguir desaparecer tão bem como tu fazes, começar do zero. Quero sacudir as mãos e ver que me livrei de mim. Pelo menos o bocado de mim que agarro nas minhas mãos. O bocado que és tu e que nunca há-de ser mais ninguém.
Há um fosso enorme entre nós os dois. Por mais que salte caio sempre. Agora já não quero saltar, bati demasiadas vezes com a cabeça e devo estar a perder a lucidez. A lucidez não me faz muita falta, o problema são os galos na cabeça.
Claro que não percebes que isto é para ti.
Agora só o vento... adeus.
Não, não é assim.

terça-feira, julho 27, 2010

Ouves o comboio a passar? O chão estremece porque a linha fica mesmo encostada ao prédio. Por baixo fica um teatro enfiado no subsolo. Os projectores estão cheios de pó, já não iluminam nada, nem sequer as tábuas podres do palco. Uma vez bati com o pé num deles, fiquei com o dedo pequeno inchado durante semanas. Tu deste risadas enormes, dás sempre.
Nessa altura ainda me descalçava, tinha essa coragem. Agora tenho medo que os meus pés fiquem cheios de pó. Tenho medo de perder o brilho e ficar cozido debaixo deste Sol embaciado.
Agora estou a estalar os dedos para fazer tempo. Quero que te vás embora com o pó, por isso vou sacudindo o pouco que já tenho nas mãos.
Cada vez que o comboio passa e faz tremer a casa, vou ficando com mais pó sobre o meu corpo.
Não é que me importe, mas tenho medo de ficar cego.

sexta-feira, julho 23, 2010

A terrivel tragédia do Semicontente (3)

O Semicontente não gosta de ser ele próprio.
Com tanto amor sente-se hiper-ventilado e ele não consegue viver só do ar.

segunda-feira, julho 19, 2010

fim.

Hoje acaba um ciclo, há uma certa felicidade à porta do precipício, à porta dos céus.
Mas também fica a sensação de angústia, a sensação de ruína de onde vamos erguer a nossa própria cidade.

segunda-feira, julho 12, 2010

Hoje olhei para trás e vi um robot enorme.
Não era deslumbrante, mas tinha o olhar luminoso dos embriagados.

domingo, julho 11, 2010

Estou no fim, isto assusta-me porque quer dizer que se aproxima um início.
Ámen!

quinta-feira, julho 08, 2010

felizmente.


Nunca fui à India.
Nunca fui a um concerto dos Radiohead.
Nunca fui à Lua.
Nunca chafurdei na lama.
Nunca caí de um décimo andar.
Nunca fiz o pino durante duas horas.
Nunca andei numa vespa.
Nunca mergulhei no Mar Vermelho.
Nunca cantei uma canção de amor a ninguém.
Nunca disse nada bonito ao meu cão.
Nunca morri por amor. (juro)
Nunca fiz dança clássica.
Nunca experimentei heroína.
Nunca dei a volta ao mundo.
Nunca gostei de pó.
Nunca suportei cheiro a lixo.
Nunca vivi na cidade.
Nunca me mascarei de gueixa.
Nunca fui presidente da república.
Nunca parti um prato na cabeça de alguém.
Nunca tive jeito para testes.
Nunca vi o meu esqueleto.
Quando ficar sem tempo, há-de ser para sempre.

domingo, julho 04, 2010

Homem!
Das cinzas queres ser um osso.
Um osso pode ligar muitos ossos e agarrar muita carne, muitos ossos prendem tendões.
Liberta os tendões dos ossos e cobre a pele de cinzas.
Não te esqueças das papoilas que nascem dos sovacos.
Coça as papoilas com as unhas que a carne segura.
Suja as unhas de terra e levanta a pele das cinzas.
Tenta não ser cadáver antes de o seres e pode ser que haja esperança.
Descansa Homem e roga a Deus por margaridas no teu Inverno.

quinta-feira, julho 01, 2010

Ando a desenvolver um gostinho pela insensibilidade.
Ouve! Cuidado comigo.