domingo, setembro 04, 2005

Memórias poéticas (2)

"Sentado na cama, olhava para a mulher deitada a seu lado, que lhe apertava a mão a dormir. Sentia por ela um amor inexprimível. Nesse momento, ela devia estar com um sono muito leve porque abriu as pálpebras e olhou para ele com um ar assustado.
«Para onde é que estás a olhar?», perguntou ela.
Sabia que não devia acordá-la e que devia voltar a conduzi-la para o sono; tentou responder-lhe com palavras que lhe acendessem na cabeça a faúlha de um novo sonho.
«Estou a olhar para as estrelas, disse ele.
- Não me mintas, tu não estás a olhar para as estrelas, tu estás a olhar para baixo.
- Mas, como vamos num avião, as estrelas estão por baixo de nós.
- Ah!», disse Tereza. Apertou ainda com mais força a mão de Tomas e voltou a adormecer. Tomas sabia que, agora, Tereza estava a olhar pela janela de um avião que voava tão alto que ia por cima das estrelas."
Milan Kundera in A insustentável leveza do ser

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