Já há muito tempo que não te via, e ainda bem. Ainda bem que este tempo todo passou. Lembras-te da última vez que estivemos juntos? Cheirava a salão de baile.
No ínicio de cada baile entravam sempre as bailarinas que sabiam dançar. Lembro-me tão bem das sapatilhas rotas que elas usavam. Eu ria-me sempre quando entrava a bailarina gorda, sempre com o dedo grande do pé à mostra. Ela era enorme. Lembras-te?
Passaram-se anos e tu estás igual. As tuas mãos ainda têm o mesmo tamanho. Fico muito contente por não me ter cruzado contigo durante todos estes anos, não queria passar estes anos todos a conter as minhas gargalhadas.
Sabes, tenho muita vontade de me rir das tuas piadas, mas não te quero habituar mal. Rir-me do que tu dizes é demasiado perigoso e passar por perigos é sempre uma chatice. Chego a morder o lábio para não me rir. Estás a ver? Comecei a sangrar, este tipo de coisas não se faz com sorriso na cara.
O mais fácil era tu transformares-te em nuvem, não olho para o céu assim tantas vezes. Assim era mais fácil do que andar para aqui a morder o lábio.
Vou contar-te um segredo: tenho medo do céu, tenho medo que seja muito diferente da minha casa; a minha casa é feia e tu és bem capaz de ter sido a coisa menos tosca que por lá andou.
(ando à espera que estas coisas me aconteçam a mim e deixem de ser ficção)
2 comentários:
Tão bonito Vicente. Beijo
Vicente, que lindo!...
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