No século XVIII o Grito era um assassino. Um dia ele matou a avó e a mãe, só não matou o pai e o irmão porque eles tinham morrido na guerra. O Grito não percebia porque é que matava tanta gente, no fundo ele só espetava facas nos corpos das pessoas e isso deixava-o transtornado: “uma faca no corpo será razão para as pessoas morrerem?” pensava ele.
Como estava a ficar bastante aborrecido com esta história, Grito foi entregar-se as autoridades, dizendo que queria ser preso. Grito é então encarcerado na prisão mais segura da cidade. Não tinha ninguém com quem dividir a cela, todos os dias a mesma comida.
Agora o Grito queria arranjar maneira de se safar da prisão, mas não conseguia arranjar maneira, até que se lembrou de uma ideia que lhe parecia brilhante: espetar uma faca no corpo e fingir-se de morto. Então, um dia ele guardou as facas do almoço e do jantar, espetou a primeira faca na perna, mas achou um disparate morrer por causa de uma faca espetada na perna. Pensou noutra alternativa: espetar uma faca no coração, a partir daqui, ele achou que duas facas espetadas no corpo eram uma razão bastante convincente para alguém morrer.
O Grito gritou. Fim da história e o Grito morreu até hoje.
sábado, dezembro 05, 2009
quinta-feira, outubro 15, 2009
Manifesto Subúrbia
Desço a rua até ao fim e entro na estação para apanhar o comboio.
No comboio encontro um cego de muletas que me pede uma esmola: “peço desculpa por estar a incomodá-lo, mas o senhor tem uma moeda que me dê para comprar o meu almoço?”
Eu digo-lhe que não tenho dinheiro, que a vida esta difícil para todos e que ele vá chatear outro…
Vou para o centro, as pessoas querem sempre ir para o centro. Porque é que as pessoas querem sempre ir para o centro? No centro sinto que não pertenço a lado nenhum.
No fim do dia, na estação terminal do centro, o frio gela-me os ossos e eu entro no comboio. O comboio chega ao subúrbio. Saio do comboio e oiço o comboio a partir como uma veia que leva o sangue a todas as casas destes pulmões podres. Subo a rua que dava para minha casa. Faz muito tempo que eu não pensava nisto tudo.
Foi no meio destas recordações, destas entranhas que o tempo parou. Volto a olhar para o céu e recordo o tempo em que eu tinha vontade, o tempo em que eu era espontâneo, o tempo em que tinha convicções, o tempo em que era virgem, o tempo em que eu era um mensageiro do belo em terra de feios.
No comboio encontro um cego de muletas que me pede uma esmola: “peço desculpa por estar a incomodá-lo, mas o senhor tem uma moeda que me dê para comprar o meu almoço?”
Eu digo-lhe que não tenho dinheiro, que a vida esta difícil para todos e que ele vá chatear outro…
Vou para o centro, as pessoas querem sempre ir para o centro. Porque é que as pessoas querem sempre ir para o centro? No centro sinto que não pertenço a lado nenhum.
No fim do dia, na estação terminal do centro, o frio gela-me os ossos e eu entro no comboio. O comboio chega ao subúrbio. Saio do comboio e oiço o comboio a partir como uma veia que leva o sangue a todas as casas destes pulmões podres. Subo a rua que dava para minha casa. Faz muito tempo que eu não pensava nisto tudo.
Foi no meio destas recordações, destas entranhas que o tempo parou. Volto a olhar para o céu e recordo o tempo em que eu tinha vontade, o tempo em que eu era espontâneo, o tempo em que tinha convicções, o tempo em que era virgem, o tempo em que eu era um mensageiro do belo em terra de feios.
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