Porque é que tenho baratas na cabeça? Elas não deveriam estar aqui. Elas deveriam estar na cave ou a passear por cima do falecido vizinho. Mas elas estão aqui, na minha cabeça, a sugarem-me pedaços de cérebro, como se eu fosse o seu caixote de estimação. Sinto as patas a andarem, a pararem, a moverem-se como se houvesse muito sítio para onde ir na minha cabeça. Já as apanhei nos meus pensamentos, nas minhas memórias.
Já tenho baratas nos olhos. Às vezes, deixo de ver porque uma barata resolveu vir espreitar. Deixei de conduzir, mas, agora, posso beber mais. Pedi a um amigo para me espezinhar a cabeça, para matar essas filhas da puta insensíveis. Porquê a minha cabeça quando há aí tanto cabrão? O meu cabelo está diferente, claro que está. As baratas estão na minha cabeça e o cabelo cresce aí. Agora tenho cabelo preto como corvo ou como BARATA. Pintaste o cabelo? Não, já disse que não foda-se! Tenho baratas em mim. Elas violaram-me, eu sei que sim. Não, não foi um sonho, foi uma tortura, baratas gigantes, com mil patas cada uma, com olhos de sangue e antenas.
Apanhei um táxi porque chovia e já tinha as calças molhadas até aos joelhos. Apanhei um daqueles táxis da Avenida Principal que dá para todo o lado e todo o lado vai lá dar. Apanhei o táxi e cheirava a mofo, humidade, coisa estranha. O taxista, bigodeiro, porreiro, abafava com a mão qualquer coisa ao seu lado. Espreitei do banco de trás. Era uma cabeça. Cabeça feminina, lábios vermelhos, grandes brincos prateados e uma pastilha elástica na boca. Cheirava a mentol, era isso. De mofo a mentol. Perguntei-lhe que fazia ali aquela cabeça. Respondeu-me que barafustara com o preço que tinha a pagar e ele não foi de maneiras e zás cortou-lhe a cabeça. Eu disse-lhe que havia pessoas que não sabiam pagar por aquilo que usufruem. É que sabia que aquilo ia dar uma trabalheira ao homem para limpar, então, apaziguei-lhe a mente dizendo-lhe que ele fez o que tinha a fazer. Mesmo em crise os táxis são táxis. São pretos e verdes ou amarelos. Prefiro os pretos e verdes. Bem, ali estava a cabeça e ainda resmungava. Impressionante. Chata do caraças. Se fosse eu, já a tinha dado aos miúdos para eles jogarem à bola.
Queria livrar-me das baratas. Então, fui até ao Cais do Sodré. Pensei: “Aqui há muita gente com doenças, mais barata menos barata não lhes deve fazer diferença”. Já me tinham dito que era assim que se fazia. Espetei-me por um bar adentro. Pedi um shot. Outro. Outro. Outro. Outro Já nem sabia a quantas ia, com quem falava mas acho que falava com alguém e que arrebentei contra o balcão e vi sangue e dentes e cabelos. Arrebentei contra garrafas, peguei noutras, esbofeteei gajas que se metiam em cima de mim, esfolei as bochechas de uma boneca loira, andei à porrada vezes e vezes na mesma noite e já ninguém me apalpava, rasguei e dancei em cima de mesas partidas com bêbados a cuspiram e a vomitarem o alcoól do almoço, do lanche e do jantar! Lixei a minha cara e fiquei uma merda, merda durante duas semanas. Numa noite, não fui mulher, não fui homem, fui BARATA. Adeus amigas!
Já tenho baratas nos olhos. Às vezes, deixo de ver porque uma barata resolveu vir espreitar. Deixei de conduzir, mas, agora, posso beber mais. Pedi a um amigo para me espezinhar a cabeça, para matar essas filhas da puta insensíveis. Porquê a minha cabeça quando há aí tanto cabrão? O meu cabelo está diferente, claro que está. As baratas estão na minha cabeça e o cabelo cresce aí. Agora tenho cabelo preto como corvo ou como BARATA. Pintaste o cabelo? Não, já disse que não foda-se! Tenho baratas em mim. Elas violaram-me, eu sei que sim. Não, não foi um sonho, foi uma tortura, baratas gigantes, com mil patas cada uma, com olhos de sangue e antenas.
Apanhei um táxi porque chovia e já tinha as calças molhadas até aos joelhos. Apanhei um daqueles táxis da Avenida Principal que dá para todo o lado e todo o lado vai lá dar. Apanhei o táxi e cheirava a mofo, humidade, coisa estranha. O taxista, bigodeiro, porreiro, abafava com a mão qualquer coisa ao seu lado. Espreitei do banco de trás. Era uma cabeça. Cabeça feminina, lábios vermelhos, grandes brincos prateados e uma pastilha elástica na boca. Cheirava a mentol, era isso. De mofo a mentol. Perguntei-lhe que fazia ali aquela cabeça. Respondeu-me que barafustara com o preço que tinha a pagar e ele não foi de maneiras e zás cortou-lhe a cabeça. Eu disse-lhe que havia pessoas que não sabiam pagar por aquilo que usufruem. É que sabia que aquilo ia dar uma trabalheira ao homem para limpar, então, apaziguei-lhe a mente dizendo-lhe que ele fez o que tinha a fazer. Mesmo em crise os táxis são táxis. São pretos e verdes ou amarelos. Prefiro os pretos e verdes. Bem, ali estava a cabeça e ainda resmungava. Impressionante. Chata do caraças. Se fosse eu, já a tinha dado aos miúdos para eles jogarem à bola.
Queria livrar-me das baratas. Então, fui até ao Cais do Sodré. Pensei: “Aqui há muita gente com doenças, mais barata menos barata não lhes deve fazer diferença”. Já me tinham dito que era assim que se fazia. Espetei-me por um bar adentro. Pedi um shot. Outro. Outro. Outro. Outro Já nem sabia a quantas ia, com quem falava mas acho que falava com alguém e que arrebentei contra o balcão e vi sangue e dentes e cabelos. Arrebentei contra garrafas, peguei noutras, esbofeteei gajas que se metiam em cima de mim, esfolei as bochechas de uma boneca loira, andei à porrada vezes e vezes na mesma noite e já ninguém me apalpava, rasguei e dancei em cima de mesas partidas com bêbados a cuspiram e a vomitarem o alcoól do almoço, do lanche e do jantar! Lixei a minha cara e fiquei uma merda, merda durante duas semanas. Numa noite, não fui mulher, não fui homem, fui BARATA. Adeus amigas!
2 comentários:
uau!!! que surreal!!!
Parece que andavas presa rapariga!
Voa, voa que nem um passarinho...
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