Sentemo-nos no parapeito da janela, entre as bisnagas de brincar e a queda interminável. Se somos bandidos temos de escusar convites e vamos roubar corações. Dentro da rua da morte há muitas escadas e sangue em garrafas para nos lembrar a gota que alimenta. Dentro de ti há filhos que querem nascer e destruir-te. Querem rasgar a tua pele e saquear velhos e porcos nojentos e castrar violadores. De dentro de mim, vigiam-me. Os assassinos estão dentro de mim.
Se dormir, o dia vai custar a vir. Já perdi os meus pés, mas posso ir ao teu colo e vou-te contando histórias felizes ao ouvido e vou avisar-te que se eu pudesse matar já me tinha morto. Então, atravessemos a rua em silêncio, mas, antes, quero dar-te uma flor. É de plástico e veio da peça de teatro. Era sobre russos em combustão num teatro ambulante dentro do teatro onde eu estava sentada. Guardei a pequena flor branca para não esquecer a outra realidade, a dos russos que estão longe e que não vejo. Pode ser que do outro lado da rua seja mais claro, mas caminhemos em frente.
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