sexta-feira, agosto 26, 2005
No sótão dos nossos sonhos
Era de noite, eu estava sentado no sofá da sala a ler um livro, não me lembro bem qual, só sei que via os candeeiros lá fora acesos, ouvia um ou outro carro, eram altas horas da noite e estava a saber-me bem ficar ali a pensar nas minhas coisas. Comecei por querer que as coisas mudassem ali, impus-me a mim mesmo que só ficaria a ali se aquele ambiente mudasse. Esperei umas quantas horas, estava mesmo decidido a não sair dali até aparecer algo de extraordinário. Passaram algumas horas, até que começou por aparecer o cavalo de madeira que me lembrava ter visto no sótão do meu avô e a espada de madeira que ele também me fizera para brincar na casa da árvore. As coisas começavam a melhorar, apetecia-me ficar ali a noite inteira, as coisas surgiam de todos os lados, havia brinquedos por tudo quanto era sítio, mas brinquedos a sério, daqueles de madeira que víamos nos livros para crianças, só faltava aparecer uma fada vinda das estrelas para pedir um desejo. O cavalinho de madeira baloiçava com o soldadinho de chumbo montado, era tão fantástico ver aquilo, aqueles brinquedos todos que o meu avô sabia tão bem esculpir, tanto engenho, tanta dedicação, tanto amor que se viam naqueles brinquedos. Havia também o castelo, e claro, o barco pirata, tantas batalhas que travamos juntos, tantas brigas que tivemos por um brinquedo, mas fazia parte, era vida, éramos felizes porque éramos crianças, não sabíamos nada, éramos anjos. A mãe pega no filho, chegou a hora de ir deitar, a criança queria ficar mais um bocadinho, quem nesta idade nunca lhe apeteceu ficar acordado e a brincar até tarde como os crescidos. A criança vai dormir, está na hora. Para mim está na hora de levantar, chega de sonhos deixo então de ser o anjo que fora nos meus sonhos para me tornar na pessoa que regressava ao mundo real, sem fadas e sem o soldadinho de chumbo montado no cavalo. Que ingenuidade querermos ser crescidos.
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1 comentário:
Que sonho querermos ser crianças.
Que sonho tão possível.
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