Às duas da tarde de domingo levantei-me. Tomei banho numa água amarela porque tinha faltado a água durante a noite e o gás não funcionava: água fria. Vesti-me, pus os cremes e sai de casa para ir almoçar ao café que ficava ainda um bocado longe de casa.
A caminho do café passei pela estação que estava deserta, não se via ninguém. A atmosfera estava muito cinzenta. O cinzento já é uma cor deslavada, mas este cinzento era mais deslavado do que os outros cinzentos. A bilheteira tinha as persianas corridas. Havia uma poça no chão que reflectia o céu cinzento, mas houve qualquer coisa vermelha que passou repentinamente pelo reflexo e eu nem vi o que era. Continuei o meu percurso agora subia a rua principal que segue até a rotunda. Passei por um jardim com dois bancos vazios e uma menina de saia e colants, tinha uma casaco azul e estava a rir-se para mim. Deu-me vontade de chorar, mas consegui conter as lágrimas. Subi mais um bocado a rua, cheguei ao café, peguei num tabuleiro. A rapariga que me atendeu estava vestida da mesma forma que a menina do jardim e o sorriso tinha envelhecido.