Do outro lado da rua, um louco suicidava-se do rés do chão enquanto um velho cego passava e bengaleava contra sacos de plástico.
Cada vez mais, os calções dos miúdos colavam às pernas por causa do calor e continuavam a jogar à bola.
Na esquina, um pássaro acabava de levantar vôo enquanto a comida passava, levantada do chão pelos braços gordos de uma mulher com pressa de chegar à hora do almoço.
Do mesmo lado da rua, o sol batia contra o vidro reflectindo espirais multicolores para o espaço.
Um louco suicidava-se do rés do chão com esperança da morte e de que ninguém abrisse a porta do quarto. Um louco suicidava-se na encenação da queda no meio do passeio. Eu assistia à queda e ao calor que lhe aparava a roupa. Ele revolvia os braços e as pernas numa agitação cada vez mais rápida até que bateu no chão. E morreu!
E só depois gritei e vi o sangue a espalhar-se pela rua. Alguém abrira a porta do seu quarto e fechara a janela e o sangue já chegava ao lado da minha rua. O louco estava morto. Causa da morte: a sua personagem.