Porque o rapaz foi para a cidade no primeiro comboio, deixou de recordar os subúrbios, aquele, o da sua infância. O desafio era outro, o da faculdade. A realidade crua do lápis e da caneta que constroem a vigas secas de betão. Uma realidade que ainda não lhe está nas entranhas, qualquer coisa de repulsa. Afinal, o rapaz só queria regressar para a pureza deste espirito.
A cidade faz esquecer as origens, até ao momento em que nos esmaga na hora de apanhar o comboio de volta para casa. Foi isso que o rapaz sentiu, que já não pertencia a lado nenhum, mas quando o frio da noite gela os ossos na estação terminal da cidade, os olhos enchem-se de lágrimas porque ele recorda-se que nas entranhas há qualquer coisa que viveu, qualquer coisa que ele recordava como um palco onde as luzes dos projectores fulminavam as vidas das donas de casa que estão no comboio.
O comboio chega ao subúrbio, o rapaz sai da estação, pensou em alguma coisa como "apesar de tudo, estava mais quente dentro do comboio". Sobe a rua que dava para sua casa, ouve o comboio a partir com o seu som gasto e velho como uma veia que leva o sangue a todas as casas.
Faz muito tempo que ele não pensava nisto tudo, como um relâmpago lembrou-se dos poetas que conhecera e que lhe falavam de um salão de baile e de um teatro que ficava por baixo de uma igreja. Foi no meio destas entranhas, destes pulmões podres, que ele voltou a olhar para trás no cimo da rua, para ter a certeza de que ainda sabia onde espreitava a lua.