quarta-feira, maio 31, 2006

o sorriso de uma árvore

pois, se calhar tens razão...

Fragmentos (de dia menos bom).

Há dias em que desenhar o sorriso das árvores não chega.

O Impertinente (26): falsa partida

Ele decidiu fazer como toda a gente faz: correr atrás da felicidade.
[1,2,3...partida!]
Quando olhou para trás, a felicidade ainda lá estava.

segunda-feira, maio 29, 2006

Toda a infância perdida é uma paternidade em potência...


Le temps qui reste, de François Ozon

domingo, maio 28, 2006

Fechado para obras (4): infância e paternidade

Às vezes, a criança que há nele desperta, para logo lhe perguntar:
"Pai?"
Toda a infância perdida é uma paternidade em potência.

sábado, maio 27, 2006

Memórias poéticas (9)


Robert Doisneau, Le Basier de L'Hotel de Ville, 1950

terça-feira, maio 23, 2006

Será que vou apanhar uma bengalada do poeta?

Inicío por dizer que até comento. Comento pois! Mas o tempo! Não o poema. Faz sol e está um calorzinho agradável. Digo que o poema não tem rima. Estão algumas nuvens no céu mais uns pássaros distraídos. Não sei a métrica. Não sei se vai chover. O poeta já morreu. Ventos a soprar moderado. Ah, é um soneto. Precipitação para amanhã, talvez. De resto, não quero ofender ninguém e tenho respeito pelos mortos. Mas até vou-me, pois tenho de fomentar (comentar) um poema. Preferia que chovesse.

segunda-feira, maio 22, 2006

Democracia das Emoções (15): porta aberta

Ele nunca se apercebe da presença dela.
Ela nunca repara nas ausências dele.

Ontem a porta ficou aberta: toda a noite.

domingo, maio 21, 2006

Memórias poéticas (8)

Depois do teatro dos sonhos surge a questão inevitável:

"Ainda dormes de luz acesa?"

quinta-feira, maio 18, 2006

Fragmentus Suburbia (14): desaceleração e violência do indesejado

Existe algo na desaceleração que convida ao auto-abandono.
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[estação terminal]

Um lugar sentado numa carruagem preenchida pode ser o local mais solitário do microcosmos suburbano.
No entanto, também é um ponto de escuta bastante privilegiado.

Aos murmúrios interiores raramente se concede um estatuto autónomo relativamente à caixa de ressonância.
No entanto, algumas caixinhas deixam escapar pequenos sons, queixumes, e outros gemidos.

[estação terminal]
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A esta velocidade estamos condenados a passar despercebidos uns aos outros.
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A esta constância estamos condenados a esquecer o que somos e para onde vamos.

(...)

Existe algo na desaceleração que se impõe com a violência do indesejado.
E existe algo no transeunte que deseja o indesejado e que o submete à sua violência.

[próxima paragem?]

Democracia das Emoções (14): madrugada

Ela arranja as unhas.
Ele limpa os ouvidos.

Nenhum dos dois tem sono.

O Impertinente (25): herdeira

Ela disse: "Um dia vais compreender-me, filha."

Quando finalmente a compreendeu, já ela própria se tinha tornado alcoólica.

segunda-feira, maio 15, 2006

Perigo!

Caro(a) Gil Costa,
Caminhar ligeiro, sem deixar rasto...
Perder-se no ritmo dos passos seguros, no caminho traçado ao longo dos tempos, sentir o perfume do mar e a textura fresca de uma toalha estendida nos sonhos vividos a dois.
Esta semana mergulhamos fundo, acordamos com o cabelo molhado, vivemos cada dia na frescura de um momento, no calor da sensação. E porque o sol desenha uma linha curva no horizonte e a paixão incondicional marca o calendário da memória, preparámos para ti em especial um conjunto de propostas irresistíveis para umas férias de praia. Da paisagem ocre de Lanzarote ao azul profundo de Santorini, do charme de Búzios ao areal a perder de vista de Porto Santo, estamos contigo em cada chapéu de sol que voa ao sabor do vento, em cada passeio tranquilo pela orla marítima, em cada abraço apertado que fecha um ciclo, em cada beijo que sela um compromisso de eternidade.

Sorri, estás na Tagus!
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Ao que isto chegou! Digam-me lá se não assusta!

domingo, maio 14, 2006

Das sínteses originais (5): «sensation-seekers» e «fitness»

The great majority of people - men as well as women - are today integrated through seduction rather than policing, advertising rather than indoctrinating, need-creation rather than normative regulation. Most of us are socially and culturally trained and shaped as sensation-seekers and gatherers, rather than producers and soldiers. Constant openness to new sensations and greed for ever new experience, always stronger and deeper than before, is a condition sine qua non of being amenable to seduction. It is not 'health', with its connotation of a steady state, of an immobile target on which all properly trained bodies converge - but 'fitness', implying being always on the move or ready to move, capacity for imbiding and digesting ever greater volumes of stimuli, flexibility and resistance to all closure, that grasps the quality expected from the experience-collector, the quality she or he must indeed possess to seek and absorb sensations.

Bauman, Zygmunt (1998), "On Postmodern Uses of Sex", Theory, Culture and Society, vol. 15, no. 3-4, pp. 19-33

[os destaques a negrito são da minha autoria]

sábado, maio 13, 2006

A obstipação do filósofo antes de sair merda

..............ui!

Heresia

Fumá-la sem a cabala!

sexta-feira, maio 12, 2006

O Impertinente (24): ingenuidade

Ela disse: "Quando virem a idade passar, avisem-me."

Quando a idade passou por eles, já não havia nada a fazer.

terça-feira, maio 09, 2006

Teatro 373 apresenta: "Era uma vez um Dragão"

Local: Espaço Tapafuros (C.C. Belavista - Mem Martins)

Sábado, 13 de Maio: 16h30
Domingo, 14 de Maio: 11h30


Bilhetes: 5 euros

Como chegar ao teatro:

domingo, maio 07, 2006

Fragmentus Suburbia (13): à noite todos os gatos são pardos.

Subo a rua e olho uma última vez para trás, lá está a lua a sorrir entre aqueles dois blocos de betão. A luzes das casas estão apagadas, o dormitório já está cheio e só falto eu para estarmos todos recolhidos. O último comboio da noite passa na linha de ferro sem parar. É a noite dos comboios fantasmas, o gato preto está no sítio do costume, mesmo por baixo do chassis do carro vermelho.

O Impertinente (23): arrumações

Ele disse: "Tu és um símbolo do país."

Depois arrumou-o na prateleira.
(...)
("Ei! E a minha palmadinha nas costas?")

Homenagem (1) Erótico-itálicismo do amor.

Ele disse: Temos de pôr tudo isso a nu.
Ela disse: Temos de pôr tudo isso no caminho certo.

No fim eles disseram:

Temos de pôr tudo isso a limpo.

sábado, maio 06, 2006

"Depois fazemos outro."


L'enfant
Jean-Pierre e Luc Dardenne

Sintoma (18): interesse

"PORTUGAL NÃO INTERESSA A 85% DOS PORTUGUESES."

Será que os restantes 15% interessam a Portugal?

quarta-feira, maio 03, 2006

Judite.


Para evitar uma queixa-crime,
chamemos-lhe apenas Judite
(ou "a rapariga que snifa cola
e que tem sinusite").

Ora isso não a faz feliz:
é que quando se assoa
fica com o kleenex colado ao nariz.

Tim Burton in A Morte Melacólica do Rapaz Ostra & Outras Estórias

terça-feira, maio 02, 2006

Uma historieta com pouco sentido...viva ao surrealismo, há sempre a desculpa

Este saltimbanco estava frenético. Era habitual. A sua mancha de cores reluzia pelos passeios e a dança desajeitada alastrava um perfume de rosas e pétalas murchas. Um dia, e mais noutros ainda, aclamou que estava grávido e que iria dar à luz um livro de poesia escrito nos troncos das árvores de uma floresta. Que estranho personagem! Parecia encarnar o espiríto poético nas suas roupas luminosas e nos quadrados de linhas desajustadas do tempo. Estava abandonado. Vivia num banco...como sempre ali estivera...vivia preso na sua solidão de fenos e transes orgânicos em volta de palavras que ninguém compreendia. Muitos consideravam-no maluco, doido, chalado, maluquinho, doidinho, muito louco, mas era óbvio que o saltimbanco sublinhava-se no imaginário de todos.
História sem moral. Mas que moral poderia vir daqui...hmmm...tratem bem os malucos que até podem ter coisas giras para dizer?...não tomem drogas?... poesia em excesso acaba por fritar qualquer coisita dentro da cabeça?... vamos borrifar-nos na moral e cultivar saltimbancos...pois, é nisto que dá!

Sintoma (17): publicidade enganosa

"DAQUI A 10 ANOS VAI ARREPENDER-SE DE NÃO TER REPARADO NESTE ANÚNCIO."
Quando chegou ao fim da frase, sentiu-se 10 anos mais velho.
Voltou a ler e cairam-lhe mais 10 anos em cima.
Repetiu a leitura e avançou mais uma década.
Depois do jantar sentou-se na beira do sofá e pensou:
"Quantos anos precisarei para sentir arrependimento?"

O Impertinente (22): o consumo da crítica

Ele disse: "É preciso evitar a crítica superficial da sociedade de consumo."
Depois foi colocado na embalagem.

segunda-feira, maio 01, 2006

Os Chatos

"A verdade é que vivemos um moralismo legal mais asfixiante e petulante que qualquer teocracia da Antiguidade. Os decretos ministeriais metem o nariz em tudo, do brinde do bolo-rei aos galheteiros nos restaurantes, dos coletes retrorreflectores nos carros aos locais de piquenique. Os menores detalhes da vida privada estão estatuídos em leis, códigos, despachos. A grande parte dos debates políticos da sociedade actual ocupa-se, não de problemas públicos, mas da vida íntima. Num tempo que se julga livre de dogmas e censuras, o grande tema de partidos, deputados, portarias são os hábitos e costumes, o conforto e intimidade, os valores e opções. Não há paralelo na História para esta ditadura moral, nem sequer na república florentina de Girolamo Savonarola. Chegámos ao paroxismo de governos, baseados em maiorias ocasionais, se acharem com direito a redefinir conceitos milenares, como casamento e família, vida e morte."
in DN 01/05/06