sexta-feira, outubro 20, 2006

O meu Guerra clandestino

Às vezes, sou guerreiro fugido do campo de batalha para me render, no campo, à árvore grande, espada de osso contra espada de madeira. Fico aliviada daquele som de bomba, da pólvora espalhada nos rostos dos atiradores e do cheiro a agonia.
Por outro lado, sinto que a Guerra é só minha, aquelas são as minhas estratégias e eu sou o comandante passado a ferro. Mas, afinal, nada me pertence. Só o meu coração, semeado, lavrado, colhido, comido nas trincheiras de Guerra.
Os pelotões avançam até ao fim da linha, mas o inimigo já partiu. Já se sente a saudade da paz, dos passos até à cafetaria para tomar qualquer coisa que se assemelhe com o doce.
Eu. Chamo-me Joana. E Guerra. E amor. Sou isto e mais coisas como as coisas que nâo têm nome. Nesta Guerra, sinto a dádiva da loucura a invadir-me o corpo, a queimar-me o anti corpo. Quem sou eu? Eu sei. O que sou eu? Não sei: mesa de cabeceira, bicho do mato, transe de passagem? Sou Guerra. Sou Guerra. Não consigo medir a densidade, mas sinto-me densa como badalo de sino a chocar no metal. Não consigo medi-la nos meus pulsos nem vê-la na minha barriga, mas sinto os pesos de nuvem.
Acordei e tinha um homem ao meu lado. Era um soldado a esvaír-se em sangue. O seu camuflado era agora um invólucro a chupar sangue. “De que te valeu essa luta?”, perguntei-lhe. “Eu ainda estou vivo. Ainda hei-de lutar mais”. “Não. Estás enganado. Tu já morreste há muito tempo. Dentro de mim”.

2 comentários:

Joana Guerra disse...

Cada qual com o seu carapuço...o teu, parece-me muito saboroso e sumarento!

Joana Guerra disse...

Nem sabes como o teu elogio veio iluminar a minha vela literária!