quinta-feira, setembro 15, 2005

A vida e o ecrã: post scriptum

Porquê eleger uma telenovela portuguesa de horário nobre como objecto de interesse?
Não irei discorrer acerca da grande temática ("as telenovelas").
Não vejo interesse em comentar as idiossincrasias da narrativa ou a qualidade do enredo.
Prefiro antes realçar algo que é profundamente característico desta telenovela: a construção da tensão.
Os textos anteriormente publicados (da série "O TeleVisionário") referem-se à tentativa de captar parte dessa tensão que é, simultaneamente, constante e constitutiva da própria novela.
Trata-se, portanto, de um exercício livre com tudo o que daí advém.
Num primeiro momento, havia que fazer a recolha de algumas frases e expressões mais directamente implicadas na construção da tensão.
Num segundo momento, procedeu-se à montagem de pequenos textos a partir dessas mesmas frases e expressões.
Procurei omitir qualquer referência a personagens: ela e ele são personagens-tipo no desenvolvimento da tensão.
Se cumpri o objectivo de retraduzir a tensão em moldes mais abstractos (porque necessariamente abstraídos do contexto narrativo em questão), só vós o podereis afirmar.
Este exercício parte de um pressuposto relativamente discutível: a tensão é inteligível mesmo fora do seu contexto de origem; possui significados que, embora nascendo desse contexto, ganham autonomia e inteligibilidade noutros campos de entendimento.
A vida e o ecrã: será possível fazer poesia de um conjunto aparentemente desarticulado de frases e expressões?
Num último momento, como bem adivinham, já não se tratava somente de captar a tensão.
Em que medida o desenvolvimento da tensão é correlativo da dicotomia vida/ecrã?
Como é que a dicotomia vida/ecrã é conservada e ao mesmo tempo transgredida, por via da tensão?
Longe de corresponder a um intuito pseudo-científico, gostaria que este exercício fosse interpretado como um acto poético.
Um acto poético revelador das enormes possibilidades associadas à reflexão antropológica.
Haja alguém, quiça um Filósofo, capaz de empreender uma hermenêutica condizente com estas premissas.

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